sexta-feira, março 02, 2007

Luís de Montalvor Luís de Montalvor é o pseudónimo do poeta português Luís da Silva Ramos. Nasceu em S. Vicente, Cabo Verde, a 31 de Janeiro de 1891 e faleceu em Lisboa a 2 de Março de 1947. Com 2 meses de idade veio viver para Lisboa, onde começou a escrever em vários jornais ainda muito novo. Quando foi residir para o Brasil foi secretário de Bernardino Machado (1912-1915). Regressou a Lisboa, com Ronald de Carvalho e fundou a revista Orpheu em 1915. Lançou ainda a revista Centauro (1916) e a editorial Ática, revelando-se um inovador nas artes gráficas. Pelo sexagésimo aniversário da sua morte, “pedi emprestado” ao Insónia este poema: ENTARDECER Sol-posto ungindo o mar: incensos de ouro! Recolhe funda a tarde em sonho e mágoa. Surdina fluida: anda o silêncio a orar –E há crepúsculos de asas e, na água, O céu é mármore extático a cismar! E nas faces marmóreas dos rochedos Esboçam-se perfis, - Cintilações, Penumbra de segredos! Ó painéis de nuvens sobre a terra, Ogivas delirantes Na água refractando… Encheis de sombra o mar de espumas rasas, Iniciando A hora pânica das asas! E, à meia luz da tarde, Na areia requeimada, São vultos sonolentos As proas dos navios… Ó tristeza dos balões Iluminando, Na água prateada, Os pegos e baixios… Dormentes constelações Que, em fundos lacustres E musgosos, Pondes reverberações Em nossos olhos ansiosos. Ó tardes de aquático esplendor, Descendo em meu olhar! Num sonho de regresso, Numa ânsia de voltar, Em mim todo me esqueço E fico-me a cismar. A tarde é toda um sonho moribundo. É já olor da cor que amorteceu. O céu vive no mar: sono profundo. A asa do rumor no ar adormeceu!