quarta-feira, março 07, 2007

Aristóteles

Há 2329 anos, no dia 7 de Março de 322 A.C., morreu Aristóteles, um dos maiores filósofos de todos os tempos, se não mesmo o maior.

Nascido em Estagira, na Macedónia, em 384 A.C., viajou para Atenas em 367 A.C., tornando-se discípulo de Platão e membro da sua Academia durante 20 anos.

Com a morte de Platão, em 347 A.C. abandonou Atenas pelo perído de 13 anos, durante alguns dos quais foi tutor de Alexandre, o Grande.

Em 334 A.C. regressou a Atenas e fundou a sua própria Academia, o Liceu, onde permaneceu até à sua morte.

Aristóteles é considerado por muitos o filósofo que mais influenciou o pensamento ocidental, tendo dado uma contribuição inigualável para o pensamento humano em áreas tão diferentes como a ética, a política, a física, a metafísica, a lógica, a psicologia, a poesia, a retórica, a zoologia, a biologia, a história natural e tantas outras.

O texto abaixo reproduzido, que faz parte da sua principal obra sobre ética, mantém-se perfeitamente actual:

O que se irrita justificadamente nas situações em que se deve irritar ou com as pessoas com as quais se deve irritar, e ainda da maneira como deve ser, quando deve ser e durante o tempo em que deve ser, é geralmente louvado. Quem assim for é gentil, se é que a gentileza é uma disposição louvada. Porque o gentil quer permanecer imperturbável e não quer ser levado pela emoção, e apenas o sentido orientador lhe poderá prescrever as situações em que deve irritar-se e durante quanto tempo. Ou seja, o gentil parece pecar mais por defeito, porque não é do tipo vingativo mas mais do género que perdoa.

O defeito, seja uma certa fleuma seja o que for, é repreendido. Os que não se irritam quando têm motivo parecem parvos, o mesmo quando não se irritam de modo correcto, nem quando devem, nem com aqueles que devem. Parece até que não sentem a injúria ou não sofrem com ela. Mas se não se irritarem não conseguem defender-se, e aguentar um insulto ou tolerar os insultos feitos a terceiros é uma característica de subserviência.

Há excessos a respeito de todos os elementos circunstanciais envolvidos num acesso de ira (seja por se dirigir contra as pessoas indevidas, seja por motivos falsos, seja por ser de mais, ou por surgir rapidamente ou por durar tempo de mais), mas certamente que nem todos os elementos circunstanciais estão feridos de um carácter indevido ao mesmo tempo e na mesma pessoa. Não parece que tal possa acontecer. Na verdade, o mal destrói-se a si próprio, e se for integral, torna-se insuportável.

Os irascíveis depressa se irritam com aqueles que não devem e pelos motivos indevidos, ou então mais do que devem, mas, por outro lado, também, depressa deixam de se comportar assim. E é o melhor que têm na sua disposição de carácter. Quer dizer, ficam neste estado porque não conseguem conter a fúria e por precipitação dão logo, às claras, uma resposta de retaliação. Mas depois sossegam.

Os que são extremamente susceptíveis depressa afinam. Irritam-se por tudo e por nada. É daí também que vem o seu nome. Os que são amargos por natureza dificilmente chegam a reconciliações, ficam zangados durante muito tempo e guardam ressentimento. Só ficam descansados quando tiverem retaliado. A vingança faz cessar a ira, pois faz nascer dentro deles um doce prazer, ao expulsar a amargura do sofrimento. Pois, se não conseguirem vingar-se, vivem como que a carregar um fardo pesado. Na verdade, é porque esta maneira de ser não se manifesta facilmente, que ninguém consegue demovê-los dos seus intentos vingativos, e é preciso muito tempo para se conseguir digerir a ira dentro de si. É assim pois que pessoas deste género são as mais inoportunas quer tanto para os seus melhores amigos quanto para os próprios.

Dizemos, então, que têm um feitio difícil aqueles que se zangam com as coisas que não devem, ou mais do que devem ou ainda durante mais tempo do que devem; estes não chegam a nenhuma reconciliação, sem terem tido primeiro uma oportunidade de se vingarem ou aplicado um castigo
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Aristóteles, in 'Ética a Nicómaco'

Texto de Aritóteles retirado do Citador e imagem retirada da versão espanhola da Wikipedia sem indicação da autoria



1 comentário:

Anónimo disse...

Não teremos todos por vezes mau feitio? Eu pelo menos sei que tenho... e já não e defeito, é feitio!
Como não acredito em pessoas boas (nem nas completamente más), acho que todos passamos por momentos em que nos chateamos com a pessoa errada (quantas vezes nao descarregamos os probelmas naqueles que mais amamos e que nos sao mais proximos...), exageramos na resposta ou ainda, quando estamos mais descontraidos e sem vontade de nos chatearmos, ignoramos completamente uma provocação.
Nada numa personalidade deve ser tão linear. Digo eu...