sábado, março 17, 2007

Elis, a Grande


Em 19 de Janeiro passado foi relembrado o 25º aniversário da sua morte. Hoje, se fosse viva, comemoraria 62 anos de idade. Mas uma overdose de drogas, tranquilizantes e álcool, fê-la deixar-nos aos 37 anos. Chamava-se Elis Regina Carvalho Costa.

Tendo gravado o primeiro Longa Duração aos 16 anos, ainda teve tempo para gravar mais 27 álbuns, tinha começado a gravar um outro, com Wayne Shorter, nos Estados Unidos e estava a escolher as músicas para o próximo disco a lançar no Brasil, quando morreu.

Em 1965 venceu o Festival de Música Popular Brasileira e o seu álbum, Dois na Bossa, foi o primeiro disco brasileiro a vender um milhão de cópias.

Em 1968 fez uma viagem à Europa, alcançando enorme sucesso (como eu me lembro disso!), principalmente no Olympia de Paris, onde se tornou a primeira artista a apresentar-se nesse teatro por duas vezes no mesmo ano.

Senhora duma técnica e de um perfeccionismo soberbos, que sabia aliar como poucos à emoção e à energia, Elis é, ainda hoje, considerada a mais completa cantora brasileira de todos os tempos.

Da sua vasta discografia, destaco o álbum Elis & Tom, gravado em 1974 em Los Angeles, com António Carlos Jobim. Haverá alguém que não saiba trautear a faixa Águas de Março, com letra e musica do Tom?

Águas De Março

É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É a noite, é a morte, é o laço, é o anzol
É peroba no campo, é o nó da madeira
Caingá, Candeia, é o matita-pereira
É madeira de vento, tombo da ribanceira
É o mistério profundo, é o queira ou não queira
É o vento ventando, é o fim da ladeira
É a viga, é o vão, Festa da Cumeeira
É a chuva chovendo, é conversa ribeira
Das águas de Março, é o fim da canseira
É o pé, é o chão, é a marcha estradeira
Passarinho na mão, pedra de atiradeira
É uma ave no céu, é uma ave no chão
É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão
É o fundo do poço, é o fim do caminho
No rosto um desgosto, é um pouco sozinho
É um estrepe, é um prego, é uma ponta, é um ponto
É um pingo pingando, é um tremendo desconto
É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando
É a luz da manhã, é o tijolo chegando
É a lenha, é o dia, é o fim da picada
É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada
É o projeto da casa, é o corpo na cama
É o carro enguiçado, é a lama, é a lama
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um resto de mato na luz da manhã
São as águas de Março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
É uma cobra, é um pau, é João, é José
É um espinho na mão, é um corte no pé
São as águas de Março fechando o verão
É promessa de vida no teu coração
É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um belo horizonte, é uma febre terçã
São as águas de Março fechando o verão
É promessa de vida no teu coração
Pau, pedra, fim, inho, resto, toco, pouco, inho
Caco, vidro, vida, ol, noite, orte, laço, sol
São as águas de Março fechando o verão
É promessa de vida no teu coração

4 comentários:

Anónimo disse...

A "Grande" não, a ENORME!
Abraço

maria disse...

Uma beleza. Uma mulher enorme. A canção, uma das minhas preferidas.

Boa memória, Lino! :)

Anónimo disse...

Lindo! Lindissima!
É pena os caminhos que a vida toma

GMaciel disse...

Lindo poema, música maravilhosa numa voz que era uma delícia. E quem se esqueceu de "Fascinação" ou "Caipira"?