René Descartes, cujo nome latino é Renatus Cartesius (daí as “coordenadas cartesianas"), nascido a 31 de Março de 1596, em La Haye en Touraine, em França, é considerado um dos pensadores mais importantes e influentes da história humana e, por vezes, apelidado de fundador da filosofia moderna e de pai da matemática moderna, tendo inspirado não só os seus contemporâneos, mas também gerações de filósofos (Leibniz, Kant, Spinoza, Arnauld, Pascal, Locke, Husserl e Malenbranche são apenas alguns). Na opinião de vários comentadores, Descartes iniciou a formação daquilo a que hoje se chama de Racionalismo Continental (supostamente em oposição à escola que predominava nas ilhas britânicas, o Empirismo), posição filosófica dos séculos XVII e XVIII na Europa.
Estudou, durante 10 anos (entre os 8 e os 18), no colégio jesuíta de La Flèche e, embora tivesse sido apreciado pelos professores, declarou-se, mais tarde, decepcionado com o ensino que lhe foi ministrado, considerando que a filosofia escolástica não conduz a nenhuma verdade indiscutível.
Depois de ter passado vários anos no Exército, em 1628 partiu para os Holanda, onde viveu até 1649. Em 1629 começou a trabalhar no Tratado do Mundo, uma obra de física que deveria defender a tese do heliocentrismo, mas, em 1633, quando teve conhecimento da condenação de Galileu pelas suas teorias científicas, sabendo, também, da morte na fogueira de Giordano Bruno e da prisão de Campanella, resolveu não a publicar.
Em 1637 publicou três pequenos resumos de sua obra científica: A Dióptrica, Os Meteoros e A Geometria, mas foi o prefácio dessas obras, conhecido como O Discurso sobre o método (nome abreviado de Discours de la méthode pour bien conduire sa raison, et chercher la verité dans les sciences) que teve enorme influência em toda a filosofia moderna.
Num estilo claro mas cheio de construções, demonstrações e imagens, explica que o Método integra quatro regras básicas: só aceitar algo depois de verificar se existem provas reais e indubitáveis acerca do fenómeno ou coisa estudada; analisar, ou seja, dividir ao máximo as coisas nas suas unidades de composição fundamentais e estudar essas coisas mais simples que aparecem; sintetizar, ou seja, agrupar novamente as unidades estudadas num todo mais complexo e verdadeiro; e enumerar todas as conclusões e princípios utilizados, a fim de nada omitir.
Em 1641 apareceu a sua obra mais conhecida, as Meditações Sobre a Filosofia Primeira, onde dá Resposta a 6 conjuntos de Objecções, cujos autores são: do primeiro conjunto, o téologo holandês Johan de Kater; do segundo, Mersenne; do terceiro, Thomas Hobbes; do quarto, Arnauld; do quinto, Gassendi; e do sexto conjunto, Mersenne.
Publicaria, ainda, várias outras obras, até à sua morte, em 11 de Fevereiro de 1650, em Estocolmo, na Suécia, onde se encontrava como professor, ao serviço da rainha Cristina. Apesar de bom católico, após a morte o Papa colocou a sua obra, em 1663, no Índex dos Livros Proibidos.
Numa época em que a ciência sofre ataques cerrados de fundamentalismos vários, deixo-vos um naco do que este génio escreveu há quase 400 anos.
É propriamente ter os olhos fechados, sem jamais tentar abri-los, viver sem filosofar; e o prazer de ver todas as coisas que a nossa visão descobre não é comparável à satisfação proporcionada pelo conhecimento daquelas que encontramos por meio da filosofia; e, finalmente, esse estudo é mais necessário para regrar os nossos costumes e conduzir-nos por essa vida do que o uso dos nossos olhos para orientar os nossos passos.
(...) Se desejamos seriamente ocupar-nos com o estudo da filosofia e com a busca de todas as verdades que somos capazes de conhecer, tratemos, em primeiro lugar, de nos libertar dos nossos preconceitos, e estaremos em condições de rejeitar todas as opiniões que outrora recebemos através da nossa crença até que as tenhamos examinado novamente; em seguida, passaremos em revista as noções que estão em nós, e só aceitaremos como verdadeiras as que se apresentarem clara e distintamente ao nosso entendimento.
René Descartes, in 'Princípios da Filosofia'
Tradução retirada de "Citador".
Na imagem, Descartes com a rainha Cristina