domingo, maio 20, 2007

Opção Terra A marca registrada da Igreja da libertação com sua correspondente reflexão reside na opção preferencial pelos pobres, contra a pobreza e em favor da vida. Nos últimos anos começou-se a perceber que a mesma lógica que explora as pessoas, outros países e a natureza, explora também a Terra como um todo, em vista do consumo e da acumulação em nível planetário. Daí a urgência de se inserir na opção pelo pobres o grande pobre que é a Terra. A opção hoje não é tanto pelo desenvolvimento, ainda que sustentável, nem pelos ecossistemas em si, mas pela Terra. Ela é a condição prévia para qualquer outra realidade. Ela tem que ser preservada. O relatório do Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas (IPCC) que envolveu 2500 cientistas de 130 países, revelou dois dados estarrecedores: primeiro: o aquecimento global é irreversível e já estamos dentro dele; a Terra busca um novo equilíbrio; segundo, o aquecimento é um fenômeno natural mas que após a revolução industrial foi enormemente acelerado pelas atividades humanas a ponto de a Terra não conseguir mais auto-regular-se a si mesma. Segundo James Lovelock, em A vingança de Gaia (2007) anualmente se jogam na atmosfera cerca de 27 bilhões de toneladas de dióxido de carbono, que condensadas, equivaleriam a uma montanha de um 1,5 quilômetros de altura com uma base de 19 quilômetros de extensão. É o efeito estufa que pode elevar a temperatura global, consoante o Painel, ainda neste século, entre 1,8 a 6,4 graus Celsius. Com as medidas que possivelmente serão tomadas, a elevação de 3 graus é tida como a mais provável mas inevitável. As consequências serão incontroláveis, os oceanos subirão entre 18 a 59 cm, inundando cidades litorâneas como o Rio de Janeiro, haverá devastação fantástica da biodiversidade e milhões de pessoas correm risco de desaparecer. Jacques Chirac, presidente da França, face a tais dados, disse com acerto:"chegou a hora de uma revolução no verdadeiro sentido da palavra: uma revolução das consciências, da economia e da ação política". Efetivamente, como não podemos parar a roda do aquecimento, podemos, pelo menos, desacelerá-la mediante duas estratégias básicas: adaptar-se às mudanças; quem não se adapta, corre risco de morrer; minorar as consequências deletérias permitindo sobrevida à Gaia, aos organismos vivos, especialmente, aos humanos. Aos três famosos erres: reduzir , reutilizar e reciclar , há de se acrescentar um quarto: rearborizar todo o planeta, porquanto são as plantas que capturam o dióxido de carbono e reduzem consideravelmente o aquecimento global. Esse quarto erre é fundamental para a preservação da Amazônia. Suas florestas húmidas são as grande reguladoras do clima terrestre. O desafio é como combinar desenvolvimento com a manutenção da floresta em pé. Não podemos desmatar no nível que se estava fazendo. Mas nem de longe somos os campeões do desmatamento, como revelou recentemente E.E.Moraes em seu livro Quando o Amazonas corria para o Pacífico (2007). A África mantém só 7,8% de sua cobertura florestal, a Ásia, 5,6%, a América Central 9,7% e a Europa que mais nos acusa apenas 0,3%. O Brasil conserva ainda 69,4% de suas florestas primitivas e 80% da floresta amazônica. Isso não desculpa nossos níveis de desmatamento nem é motivo de orgulho mas representa um desafio à nossa responsabilidade global para o bem do clima de todo o Planeta. Leonardo Boff Publicado no site do autor em 02/03/2007 e aqui afixado com a sua autorização.

1 comentário:

GMaciel disse...

De novo, absolutamente de acordo com Leonardo. A reflorestação é urgente e premente, mas se neste pequeno Portugal essa é uma medida anunciada e nunca implementada, imagino a dificuldade que será no gigante Brasil.
:(