sexta-feira, maio 18, 2007

O poeta dos desesperados


Ian Kevin Curtis, falecido a 18 de Maio de 1980, com apenas 23 anos de idade, foi co-fundador, letrista e vocalista de uma banda de culto, os Joy Division.

Nascido em Manchester, a 15 de Julho de 1956, em 1976 juntou-se a Bernard Summer e Peter Hook numa banda que viria a chamar-se Warsaw e cujo nome foi mudado para Joy Division no início de 1978, para evitar confusões com um grupo “punk” londrino de nome Warsaw Park, entretanto surgido.

Ian Curtis sofria de epilepsia e, como vocalista dos Joy Division, desenvolveu um estilo de dança em palco muito pessoal, uma espécie de reminiscência dos ataques epilépticos que sofria, às vezes mesmo durante os espectáculos. A semelhança era tanta que o público tinha dúvidas se se tratava de uma encenação ou de um verdadeiro ataque.

Com fortes influências literárias dos escritores William Burroughs e J.G. Ballard e dos cantores Jim Morrison, Iggy Pop e David Bowie, Ian era uma pessoa bastante reflexiva, todo ele poesia, e demonstrava-o nas sua letras, tais como She’s Lost Control, em que fala de uma amiga que também sofria de epilepsia. O tom depressivo e seco de muitas das suas canções, como Disorder, The day of the lords, Love will tear us apart e muitas outras, levaram os seus fãs e mesmo a sua mulher, Deborah, a acreditar que estava a cantar a sua própria vida.

Em Março de 1980 os Joy Division gravaram o seu segundo álbum de estúdio, Closer, com o estado clínico de Ian já muito agravado. No dia 17 de Maio pediu à mulher que o deixasse sozinho em casa, bebeu uma garrafa de whisky, viu um filme de Werner Herzog, escreveu uma carta à mulher, pôs a tocar o álbum The Idiot, de Iggy Pop e, na madrugada de 18 de Maio, suicidou-se, pendurando-se de uma corda na cozinha.

Desespero, melancolia, angústia, dor e mistério, combinados e apresentados ao público de maneira poética e emocionante, deram origem a um mito que foi um dos mais enigmáticos músicos da sua época.

Com a sua morte e apenas com dois álbuns de estúdio gravados, terminava, também, a carreira de um dos mais influentes grupos de todos os tempos, precisamente quando estava prestes a atingir o seu auge. Os Joy Division são considerados por muitos os percursores do rock gótico. Apesar de não se vestirem ao “estilo gótico”, este género musical estava a nascer nessa altura e ainda não era associado a nenhum tipo de imagem específica.

A banda, e especialmente Ian Curtis, tem servido de inspiração para um vasto conjunto de músicos: Radiohed, Doves, U2, Smashung Pumpkins, Maniac Street Preachers, Trent Reznor (dos Nine Inch Nails), Robert Smith (dos The Cure) e John Frusciante (dos Red Hot Chili Peppers).

Os membros dos Joy Division tinham-se comprometido a mudar o nome da banda caso um deles a abandonasse. Mantendo esse compromisso, logo após a sua morte os três restantes músicos criaram o grupo New Order, que continuou o trabalho que vinham a desenvolver e ainda se mantém em actividade.

O filme Control: The Ian Curtis Film, dirigido por Anton Corbijn e baseado na biografia publicada pela viúva, Deborah Curtis, em 1996, estreou ontem à noite no Festival de Cannes 2007, com aplauso geral da crítica.

Love Will Tear Us Apart

When the routine bites hard
and ambitions are low
And resentment rides high
but emotions won't grow
And we're changing our ways,
taking different roads
Then love will tear us apart again

Why is the bedroom so cold?
You’ve turned away on your side
Is my timing that flawed?
Our respect run so dry
Yet there's still this appeal
That we've kept through our lives
But love will tear us apart again

You cry out in your sleep,
All my failings exposed
There’s taste in my mouth
As desperation takes hold
Just that something so good
Just can't function no more
When love will tear us apart again.

Ian Curtis