Cantares Galegos
Hoje é feriado na Galiza, região onde se comemora o Dia das Letras Galegas. Este Dia foi instituído em 17 de Maio de 1963, quando se comemorou o centenário da publicação, em Havana, do primeiro exemplar da obra poética Cantares Galegos, da autoria de Rosalía de Castro.
Nascida em Santiago de Compostela a 21 de Fevereiro de 1837 e falecida em Padrón (Corunha) a 15 de Julho de 1885, Rosalía de Castro, escritora e poetisa em língua galega e castelhana, é considerada a fundadora da moderna literatura galega.
Com efeito, apesar de também ter escrito várias obras em castelhano, Rosalía de Castro foi importantíssima para o “Rexurdimento” (Renascimento), etapa cultural da história da Galiza que se desenvolveu ao longo do século XIX e que teve como característica principal a revitalização da língua galega como veículo de expressão social e cultural, após o período de ostracismo a que foi votada e que é chamado de “séculos negros”.
Com o advento do Romantismo na Península Ibérica, reaviva-se o espírito regional e a identidade própria das regiões espanholas. Na Galiza, confrontam-se a língua castelhana, urbana e favorecida pela burguesia dominante, e a língua galega, considerada rural e camponesa, sem utilização literária e sujeita a uma enorme diglossia.
A partir de 1840, há grupos de intelectuais que vêem a Galiza como uma região atrasada que só é possível fazer avançar através da assunção política da consciência nacional, dando origem a um movimento regionalista dirigido a partir da Universidade de Santiago de Compostela. Em 1846, surgiu uma revolta contra o poder central, o levantamento de Solís, que culminou com o fuzilamento de um grupo de revoltosos, conhecidos como os mártires de Carral, e com o despertar da consciência linguística.
Para esse despertar foram fundamentais obras como Proezas da Galiza, de Fernandez Neira e a Gaita Galega (1853), de Juan Manuel Pintos, bem como a criação dos Jogos Florais da Corunha (1861), mas foi efectivamente Rosalía de Castro, com Cantares Galegos (1863), quem deu o grande impulso para o desenvolvimento que a literatura galega tem conhecido no último século e meio. E esse desenvolvimento é muito importante para a cultura portuguesa, dado haver uma grande afinidade entre o galego e o português antigo, bem como com o português popular falado no Alto Minho.
Dos Cantares, um poema na sua versão original:
Cada estrela, o seu diamante;
cada nube, branca pruma;
triste a lúa marcha diante.
Diante marcha crarexando
veigas, prados, montes, ríos,
onde o día vai faltando.
Falta o día e noite escura
baixa, baixa, pouco a pouco,
por montañas de verdura.
De verdor e de follaxe,
salpicada de fontiñas
baixo a sombra do ramaxe.
Do ramaxe donde cantan
paxariños piadores,
que ca aurora se levantan.
Que ca noite se adormecen
para que canten os grilos
que cas sombras aparecen.
Rasalía de Castro (Cantares Galegos - Havana, 17 de Maio de 1863)
1 comentário:
Sempre a aprender!
Bom fim-de-semana!
Grande abraço
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