sábado, outubro 04, 2008

O boi do Orfeu Como sempre fazia, Jocelínio foi cobrar o aluguel de uma casa justamente na hora em que o inquilino não estava lá. Mas a Carmesinda, esposa dele, estava. E era o que interessava. Há meses ele só ia cobrar o aluguel no horário de trabalho do Agenor, aceitava o cafezinho que e Carmesinda fazia na hora para ele e tentava algumas intimidades maiores. Ela não topava, ele saía doidão de lá. Pois, dessa vez, ela estava bem mais acessível. Conversa vai, conversa vem, em vez do café, ela ofereceu um licorzinho de jabuticaba, tomou um cálice junto e, para resumir, pouco tempo depois estavam na cama, peladinhos da silva. Mas, justamente nesse dia, o pedreiro Agenor resolveu parar o trabalho mais cedo, não estava com saco para ficar rebocando paredes. Foi para casa, com intenção de ficar à toa o resto da tarde. Entrou quieto, não viu a mulher na sala, nem na cozinha, foi para o quarto de casal, de onde vinham alguns ruídos, e deu de cara com aquela cena. Se já tinha raiva de Jocelínio por ter que lhe pagar um aluguel que achava injusto, ali tinha mais um motivo para dar-lhe uma surra. E deu. Encheu o Jocelínio de porretadas, deixando sobrar algumas para a Carmesinda. Apesar dos ferimentos doloridos, a grande preocupação do Jocelínio era outra, aquela do “que é que eu vou dizer lá em casa”. - Dita, olha só o que aquele maldito boi do Orfeu fez comigo – inventou para a esposa. – Eu vinha vindo da roça e ele me pegou de jeito. Desgraçado, eu ainda mato aquele boi... Ela fingiu que acreditou. Mas, desse dia em diante ninguém se lembra mais do nome do Jocelínio, pois ele só é conhecido pelo apelido, boi do Orfeu. Mouzar Benedito Publicado no jornal digital VIAPOLÍTICA

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