domingo, outubro 26, 2008

Dinossauro Excelentíssimo Houve velórios nos outeiros, altares à volta do retrato do Imperador. Discursos também, e muitos. Versos de despedida, lágrimas de sobreaviso. Os jornais anunciavam em letras de caixão alto que para grandes povos, grandes desastres. Longe, em Cu de Judas, os camponeses excursionistas sabiam que iam ser chamados ao funeral e punham um olho no calendário, outro nas sementeiras, interrogando-se se viria em má altura. Nas repartições públicas suspirava-se fundo: desgraça por desgraça, ao menos que a morte calhasse em tal dia assim e assim para haver ponte de fim de semana. Os comerciantes inquietavam-se: feriados de luto nunca beneficiavam senão os da capital. Os presos sonhavam com amnistias e as beatas com embaixadas de estrangeiros em missas de grande pompa. José Cardoso Pires, excerto de Dinossauro Excelentíssimo.

2 comentários:

Maria José disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
jrd disse...

Uma delícia de prosa. E que bom foi gozar assim com o manholas de Sta. Comba.