quarta-feira, abril 16, 2008

O que (não) é o jantar?

Alguns especialistas vinham há muito tempo a chamar a atenção para o problema, mas os poderosos apelidaram-nos de fanáticos, encolheram os ombros e assobiaram para o lado.

O contínuo aumento do preço dos cereais já tinha provocado uma greve em Itália por causa do preço da pasta, motins no México contra o aumento do preço do milho, base da tortilha, o prato tradicional dos mais pobres e protestos em vários países - Guiné, Mauritânia, Marrocos, Senegal, Uzbequistão e Iémen, entre outros - mas a União Europeia e os Estados Unidos continuaram a subsidiar alegremente as culturas destinadas aos biocombustíveis, enquanto em países em desenvolvimento se assistia à destruição da floresta para culturas intensivas de soja, palma oleaginosa ou cana de açúcar, todas destinadas à produção de combustíveis.

Na última semana de Março tinha sido o alarme mundial por causa do aumento exponencial do preço do arroz, com grandes produtores (Vietname, Índia, Egipto, Cambodja) a limitarem ou interromperem as suas exportações com vista a salvaguardarem algumas reservas para os seus cidadãos.

Depois surgiram os motins em vários países, quer por causa dos cereais quer por causa dos óleos alimentares, da Indonésia ao Egipto, passando pelo Haiti, onde se verificaram várias mortes e houve notícia de pessoas que apenas tinham para comer biscoitos feitos de terra e óleo alimentar. A China decretou o congelamento dos preços dos óleos de cozinhar, dos cereais, da carne, do leite e dos ovos, e a presidente das Filipinas deu ordens aos investigadores governamentais para localizarem os açambarcadores, a fim de serem punidos.

Este fim de semana foi a reunião dos ministros das finanças dos países ricos, com os dirigentes do Banco Mundial e do FMI a acordarem para a dura realidade que é a fome que grassa por todo o mundo e põe ainda mais em risco o desenvolvimento físico e intelectual de centenas de milhões de crianças.

Ontem, sessenta países, apoiados pelo Banco Mundial e pela maioria das agências da ONU, apelaram a mudanças radicais na agricultura mundial para evitar uma crescente escassez de comida em algumas regiões, a escalada dos preços e o aumento dos problemas ambientais. O Banco Mundial estima que pelo menos 33 países estão actualmente em risco de desestabilização política e de conflitos internos devido à inflação do preço da comida.

No fim do século passado considerava-se que, se nada fosse feito, seria inevitável uma guerra global por causa da água: que se saiba, ninguém se incomodou muito com isso, talvez porque os decisores, nessa altura, já não andarão por cá. Confrontados com uma grave crise financeira a nível mundial, serão os dirigentes capazes de fazer face a uma crise muito mais grave, que é a fome de quase metade da humanidade?

Nota: o título desta posta não pretende fazer humor negro. Cá em casa, na sequência do acidente sofrido pela minha companheira em Agosto passado e dando cumprimento a anteriores recomendações médicas, o jantar passou a ser sopa, um copo de tinto e fruta.
Para já, apenas por opção porque, felizmente, ainda faço parte da metade da humanidade que pode ter várias refeições quentes por dia
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1 comentário:

Anónimo disse...

os governos nunca se preocupam, ja que quem move o mundo (os ricos) querem combustivel.
E com esta saga de no poluiçao as pessoas pensam erradamente que o biocombustivel e melhor.... mas no fundo, vai-nos sair muito mais caro!