How many times must a man look up, Before he can see the sky? How many ears must one man have, Before he can hear people cry? The answer, my friend, is blowin' in the wind. The answer is blowin' in the wind.
quinta-feira, fevereiro 22, 2007
Prazer sexual e Igreja
É comum dizer-se que a Igreja Católica possui fobia sexual e que trata temas da moral familiar e da sexualidade com excessivo rigor. Há certa razão nisso, pois a palavra "prazer" suscita nela preocupações e, em se tratando então do "prazer sexual", suspeitas. Ela, na verdade, educou mais para a renúncia do que para a alegre celebração da vida.
Entretanto, nem sempre foi assim. Dentro da mesma Igreja, há tradições e doutrinas que vêem no prazer e na sexualidade uma manifestação da criação boa de Deus, uma centelha do Divino e uma participação no ser mesmo de Deus. Esta linha se liga antes à tradição bíblica que vê com naturalidade e até com entusiasmo o amor entre um homem e uma mulher, com toda sua carga erótica, como plasticamente o descreve o Cântico dos Cânticos, com seios, lábios, vulvas e beijos.
Mas esta linha não vingou na cristandade. Ao contrário, predominou a negativa por causa da influência poderosa que o gênio de Santo Agostinho (354-430) exerceu sobre toda a Igreja Romana. Não cabe aqui identificar a base material e sócio-cultural que permitiu esta incorporação. Mas importa reconhecer o caráter fortemente negativo de sua visão, embora tenha sido, como jovem, muito ativo sexualmente, a ponto de ter tido um filho, Deodato. Em seus Solilóquios diz:"Quanto a mim, penso que as relações sexuais devem ser radicalmente evitadas. Estimo que nada avilta mais o espírito de um homem do que as carícias sensuais de uma mulher e as relações corporais que fazem parte do matrimônio". Pode a Igreja que afirma o amor humano assumir tal doutrina?
Mas não devemos absolutizar a posição rigorista da Igreja oficial. Ao lado dela sempre se fez presente também a outra, positiva e corajosa. Com efeito, uma ideologia, por mais incisiva que seja como aquela de Santo Agostinho, não tem a força suficiente para recalcar o prazer sexual, já que este se enraíza no mistério mesmo da criação de Deus. Ele, aqui e acolá, queira a Igreja ou não, sempre faz valer seus reclamos.
Para ilustrar a tradição positiva da sexualidade cabe citar aqui uma manifestação que perdurou na Igreja por mais de mil anos, conhecida pelo nome de "risus paschalis", de "riso pascal". Ela significa a presença do prazer sexual no espaço do sagrado, na celebração da maior festa cristã, a da Páscoa. Trata-se do seguinte fato, estudado com grande erudição por uma teóloga italiana Maria Caterina Jacobelli (Il risus paschalis e il fondamento teologico del piacere sessuale, Brescia 2004): para ressaltar a explosão de alegria da Páscoa em contraposição à tristeza da Quaresma, o sacerdote na missa da manhã de Páscoa devia suscitar o riso no povo. E fazia-o por todos os meios, mas sobretudo recorrendo ao imaginário sexual. Contava piadas picantes, usava expressões eróticas e encenava gestos obscenos, dramatizando relações sexuais. E o povo ria que ria. Esse costume é encontrado já em 852 em Reims na França e se estendeu por todo o Norte da Europa, Itália e Espanha, até 1911 na Alemanha. O celebrante assumia a cultura dos fiéis em sua forma popularesca, plebéia e obscena. Para expressar a vida nova inaugurada pela Ressurreição, dizia esta tradição, nada melhor que apelar para a fonte de onde nasce a vida humana: a sexualidade com o prazer que a acompanha. Podemos discutir o método impertinente, mas ele revela na Igreja uma outra postura, positiva e alegre, face à sexualidade.
Leonardo Boff
Publicado no site do autor em 15/10/2004 e aqui afixado com sua autorização.
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3 comentários:
Texto interessante!
Abraço!
Experimenta dizer isto mesmo a um padre, como eu já o fiz. Credo, o homem quase me excomungou!
:)
Como sempre, um excelente texto.
abraço
Hum... depende do Padre!
Mas seria engraçado dizer isto a alguns padres que conheço...
:)
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