terça-feira, maio 19, 2009

Tem-te-não-caias
Avassalados pelas pesporrências com que somos diariamente matraqueados por políticos obtusos através de jornais, rádios e televisões, corremos o risco de desaprender a distinguir o essencial do acessório, não dando a necessária atenção aos dias difíceis que a União Europeia atravessa, quer do ponto de vista económico quer quanto aos aspectos políticos e sociais, devido à falta de líderes capazes de enfrentar os desafios que se nos colocam. Inebriados pelo desmoronamento do bloco soviético e empurrados pelos interesses do império do bem, alguns países lançaram-se como abutres sobre os despojos do agonizante império do mal, não fosse o moribundo recuperar das maleitas e reclamar a sua parte. Saquearam o que puderam, prometeram os paraísos da liberdade e da vida folgada, lançaram torrentes de dinheiro nos bolsos dos governos que iam tocando a sua música, sem se preocuparem com quem havia de pagar a factura. Por mero cálculo político oportunista, fizeram o maior alargamento de sempre da União Europeia, não submetendo previamente os aspirantes à imprescindível recruta e sem adequar as estruturas do quartel para os desafios que uma incorporação apressada e em massa colocava. Anos depois, afogados na maior crise de que os mais velhos têm memória, as camaratas tremem de Dublin a Atenas e de Tallinn a Lisboa, ao mesmo tempo que as chamadas traves mestras se afundam na lama movediça das dívidas de neófitos e veteranos. Sobre os aspectos económicos, têm vindo a ser publicados vários alertas, quer para a situação da União Europeia no seu conjunto quer para a Eurozona em particular, dos quais destaco, pela sua actualidade, esta excelente coluna do economista e jornalista Anatole Kaletsky, publicada no Times de ontem. No que ao político e social diz respeito, os riscos que correm os sistemas públicos de reforma, o desemprego e os escândalos políticos são os quebra-cabeças de uma União que se preocupa mais em determinar o tamanho da cenoura e do pepino, a qualidade da alpista para os canários e periquitos ou o perímetro dos tomates, do que em tomar as decisões que se impõem para agarrar o touro da crise pelos cornos. Também não admira, quando não encontra ninguém mais apto para a liderança do que o paquete da cimeira das Lajes. Entretanto, no reino de sua majestade parece não haver político que consiga safar-se do lodaçal do reembolso de despesas, que vão desde os 87 cêntimos em latas para comida de cão até aos milhares de libras em jardinagem ou no reembolso de impostos municipais pela totalidade quando apenas tinham sido pagos 50%; o gaulês que gosta de chamar escumalha a alguns concidadãos e que tem de usar sapatos de saltos altos para parecer tão grande como a actual mulher, faz voz grossa, mas mais nada; a dona de casa alcandorada ao lugar de chanceler parece não saber para onde virar-se; os gregos não têm governo nem oposição; na Polónia segue a caça às bruxas, com todos aqueles sobre quem recai a mínima suspeita de colaboração com o regime comunista a serem saneados dos cargos públicos; o Caimão continua na crista da onda, a tentar apalpar trabalhadoras humanitárias, a dizer aos desalojados para fazerem de conta que estão a acampar, a escolher dançarinas, actrizes e adolescentes para carreiras políticas de acordo com o diámetro das coxas e o tamanho das mamas, a perseguir o único jornal que não lhe pertence e a fazer aprovar leis discriminatórias; bálticos, húngaros, romenos e outros não sabem o que hão-de fazer e também não vêem quem os possa ajudar; aqui ao lado, o desemprego vai quase nos 20%, o conluio entre PSOE e PP está para durar e espreitam as ameaças a quem tem a coragem de dizer que o rei vai nu (literalmente), como aconteceu com a proibição de a Iniciativa Internacionalista, liderada por Alfonso Sastre, sem dúvida o maior dramaturgo vivo do mundo, concorrer às Europeias, com base no argumento de que um elemento da lista fez parte de uma lista do Herri Batasuna quando este partido estava perfeitamente legalizado. As desgraças do rectângulo e adjacências ficam para outra oportunidade.

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