terça-feira, maio 26, 2009

Lágrimas de crocodilo Não fiquei muito surpreendido com o Relatório Ryan, do qual, devido à sua extensão de 2.600 páginas, apenas pude ler por alto as conclusões e recomendações do Executive Summary, pois há vários anos estava à espera de que a bomba estourasse na Irlanda com uma violência ainda maior do que nos Estados Unidos. Mesmo assim, a náusea, a revolta e o sentimento de impotência e vergonha inibiram-me de dizer, mais cedo, algo sobre o assunto. Não chegam as lágrimas de crocodilo e os pedidos de desculpa das ordens religiosas envolvida no escândalo durante mais de 60 anos porque, ao longo do tempo, muita gente sabia o que se passava, deu cobertura e negou o que era evidente. Com se isso não chegasse, a Congregation of Christian Brothers, já envolvida em abusos noutros países, passou os nove anos desde a criação da Comissão de Inquérito a torpedear o trabalho desta e conseguiu mesmo que o tribunal impedisse a Comissão de divulgar os nomes dos implicados, alegando que muitos já tinham morrido e não se podiam defender. Em circunstâncias destas é preciso levar os criminosos (e criminosas) à justiça, vivos ou mortos, para que sejam, mesmo que postumamente, responsabilizados pelos seus actos hediondos. E se os responsáveis da Igreja na Irlanda não têm poderes para isso, como parece depreender-se deste artigo de hoje do Irish Independent, o Vaticano não só pode como tem o dever de o fazer, exigindo às ordens religiosas a lista dos sacripantas - perpetradores, coniventes e ocultadores - e entregando-a às autoridades judiciais do país. Só assim haverá alguma reparação moral dos abusados e seviciados, só assim os que morreram e são inocentes poderão ser recordados na sua dignidade, só assim os que estão vivos e são inocentes poderão encarar os seus irmãos de frente e só assim milhões de católicos sentirão algum alívio para a sua vergonha.

1 comentário:

mdsol disse...

Realmente é tudo demasiado grave para que não seja devidamente julgado!

Bom dia "vizinho" da blogosfera!

:))