sábado, maio 16, 2009

Afinal...havia fogo É habitual dizer-se que onde há fumo há fogo, embora seja suficiente ter-se nascido no campo para saber que nem sempre isso corresponde à verdade. No caso da jornalista com a dupla nacionalidade iraniana e estado-unidense, primeiro condenada a 8 anos de prisão por alegada espionagem a favor dos Estados Unidos, pena agora reduzida a 2 anos de prisão, suspensa por igual período, acaba de se provar que havia mesmo fogo. A organização Repórteres Sem Fronteiras, que toda a gente sabe que é uma ONG impoluta, incapaz de receber financiamentos das grandes transnacionais, da NED ou da USAID, bem tentou fazer querer que a prisão da jornalista era pura ameaça à liberdade de expressão, como sempre faz com todos os jornalistas que não incomodam os Estados Unidos, a França, Israel e os seus lacaios no primeiro, segundo, terceiro ou quarto mundos e nunca faz com aqueles que afrontam os seus interesses, como comprovam a sua atitude perante a morte do jornalista espanhol José Couso, a descarada legitimação da tortura e outros. De notar que a Repórteres Sem Fronteiras não pôs apenas em causa o modo como o primeiro julgamento foi efectuado pois, se o tivesse feito, até lhe assistia a razão, dado que não foi dado à acusada o direito de defesa, como, aliás, aconteceu com dezenas de detidos em Guantánamo. Exigiu, pura e simplesmente, que o governo iraniano se imiscuísse no sistema judicial do país e que libertasse a jornalista sem cuidar se havia razão para condenação ou não. Pelos vistos até havia, pois a jornalista tinha copiado “por curiosidade” um relatório altamente confidencial sobre a invasão do Iraque, como a mesma reconheceu perante o tribunal de apelo, no Domingo, embora negasse tê-lo entregue aos americanos. Pediu desculpa dizendo que tinha sido um erro e o tribunal, que teria recebido uma carta de Ahmadinejad a insistir para que o caso fosse completa, profunda, e justamente revisto, reduziu e suspendeu a aplicação da pena, libertando a jornalista. Tudo isto pode ser confirmado no insuspeito The Washington Post. Devo deixar claro que não contesto a provável injustiça da condenação inicial nem a aparente benevolência da segunda; apenas acho que exigir-se a intromissão do poder político num assunto que devia pertencer apenas à justiça é um mau precedente para quem se arma em defensor da independência dos tribunais. Já agora, espero para ver o comportamento ocidental perante o caso do alto funcionário do Departamento de Defesa dos Estados Unidos acusado de passar segredos aos chineses. Afinal, o bom do James W. Fondren Jr., apenas teve a “curiosidade” de saber quanto é que um amigo de Taiwan naturalizado americano lhe dava por cada informação e, aparentemente, nem sequer sabia que, de acordo com a ONU, Taiwan faz parte integrante da República Popular da China.

1 comentário:

jrd disse...

Não sei se há mais fumo do que fogo, mas daquele, como doutros, fogareiros, sai-se normalmente queimado.