domingo, abril 19, 2009

Vicissitudes da vida Era minha intenção homenagear um dos dois intelectuais brilhantes de língua portuguesa cujos aniversários natalícios hoje se celebram - a grande Lygia Fagundes Telles, prémio Camões de 2005, felizmente ainda entre nós, ou o enorme Manuel Bandeira, nascido há 123 anos. Mas opto por me referir à estória de solidão e desprezo sofridos de uma mulher, cujo talento oculto apenas se revelou aos 47 anos de idade, perante os ouvidos incrédulos e as faces perplexas do júri e da assistência de um concurso de novos talentos, faces essas que há apenas uns instantes faziam trejeitos de impaciência carregados de desdém. Já quase tudo foi dito sobre Susan Boyle, a senhora escocesa vítima de um parto complicado que lhe provocou dificuldades de aprendizagem, que sempre foi tratada como atrasada mental, que nunca recebeu um beijo de um homem, cuja única companhia, após a morte da mãe, era o seu gato velho de 10 anos e que se transformou num fenómeno global de uma dita sociedade da informação tão capaz de incensar os seus heróis momentâneos como de enterrá-los no momento seguinte. Eu não percebo nada de qualidade vocal, mas acho extraordinário que ninguém, incluindo os agora orgulhosos vizinhos, tenha antes reparado naquela voz, autêntico diamante em bruto escondido por detrás de uma face banal. Mas é bom saber que, fora do apetite devorador dos media, uma cantora da qualidade e estatuto da Elaine Paige, precisamente o grande ídolo da Susan, decididiu sugerir a possibilidade de cantaram em dueto.

2 comentários:

jrd disse...

A sociedade que hoje a idolatra é a mesma que ontem a ignorava. Susan Boyle pode ser "diferente" mas a dita sociedade é a mesma.

Helenice Priedols disse...

Vi o vídeo de Susan Boyle e o mais tocante é ver o preconceito saltar à vista. Quando nós, humanos, seremos capazes de olhar para alguém sem julgar antes de conhecer, apenas pelo que está aparente?

Aguardo as homenagens a Lygia e Manuel Bandeira. São merecidos.

Obrigada pelas visitas, um abraço,

paz e luz