How many times must a man look up, Before he can see the sky? How many ears must one man have, Before he can hear people cry? The answer, my friend, is blowin' in the wind. The answer is blowin' in the wind.
segunda-feira, abril 30, 2007
quarta-feira, abril 25, 2007
Mesmo do outro lado do Atlântico e do outro lado do equador, não posso deixar de recordar a voz pausada de Luís Filipe Costa a ler o comunicado do Movimento das Forças Armadas, na madrugada de 25 de Abril de 1974, tinha eu 24 anos e já lá vão 33.
Para o efeito, escolhi um poema do grande Zé Carlos Ary dos Santos, As Portas que Abril Abriu.
Por mais que os saudosistas recordem o bolor salazarento, por muito que a desilusão se tenha apoderado dos que se lembram, como se fosse hoje, do povo nas ruas, pese embora a muita ignorância que, a respeito dos factos ocorridos, grassa em largas camadas da população, As Portas que Abril Abriu ainda estão entre-abertas. Cabe-nos não deixar que se fechem de todo.
Era uma vez um país
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais infeliz
dos povos à beira-terra.
Onde entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo se debruçava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.
...
Ouvi banqueiros fascistas
agiotas do lazer
latifundiários machistas
balofos verbos de encher
e outras coisas em istas
que não cabe dizer aqui
que aos capitães progressistas
o povo deu o poder!
E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe!
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu!
José Carlos Ary dos Santos
Lisboa, Julho-Agosto de 1975
Devido à sua extensão, o poema completo está em Comentário 1
terça-feira, abril 24, 2007
sábado, abril 21, 2007
Parafraseando o inefável PSL, vou "andar por aí" durante três semanas.
Não sei se, para onde vou, terei possibilidades de afixar alguns textos, mas vou tentar.
De qualquer modo, não terei hipóteses de visitar as "tasquinhas" que me são familiares, pelo que peço relevem a minha ausência.
Amável oferta do autor
Parte das minhas visitas vêm do Brasil. Do Rio, de São Paulo, de Minas Gerais, do Ceará e de outros Estados desse imenso País.
Por isso, não podia deixar de assinalar o dia de hoje, feriado nacional no Brasil por ser o dia da morte de Joaquim José da Silva Xavier, mais conhecido como Tiradentes, considerado o Patrono Cívico do País.
Tiradentes foi condenado à morte, decapitado e esquartejado em 21 de Abril 1792, por ordem da nossa Raínha Louca, D. Maria I, porque assumiu a total responsabilidade de um movimento originário de Minas Gerais, chamado Inconfidência Mineira, que visava a independência da colónia portuguesa que, então, o Brasil era.
Sendo um dos Inconfidentes de menor estatuto social, foi atraiçoado, mas não denunciou ninguém. Foi o único condenado à morte, tendo os os restantes participantes no movimento sido condenados ao degredo, em África.
Ao procurar um poema que lhe fosse dedicado, deparei com a página de um poeta relativamente jovem, João Barcellos, que escreveu este primor:
Oh, Tiradentes!
nos lugares por onde passaste e puseste tua fala
ficaram expostas as tuas partes
enforcaram-te porque ao bruto império disseste não
cortadas as partes
salgadas foram
para que o império uno também no além-mar
d’el-rei soubesse e sentisse a mão pesada
cortadas as partes
salgadas foram
enquanto os poetas íam pela vela enfunada na bolina
preencher punição nas partes africanas em danado destêrro
foi-se o romântico bulir da revolução no estêrco
imperial das afonsinas e filipinas ordenações da justiça
cortadas as partes
salgadas foram
com mirradas gotas d’água benta em benção ensanguentada
fúnebre cortejo que a alma brasileira há-de sempre lembrar
cortadas as partes
salgadas foram
se assim o era nos arraiais d’el-rei assim a revolução
foi decepada em todas as partes
e não somente as tuas porque ainda agora ouvimos a tua fala
João Barcellos (Ouro Preto - 1998)
(Tiradentes Esquartejado, quadro de Pedro Américo - 1893)
A sua poesia enquadra-se na terceira geração do romantismo, influenciada por Vitor Hugo.
Autor de vasta obra, foi um dos membros fundadores da Academia Brasileira de Letras.
A alma
Aqui da fronte é que desponta a aurora,
Aqui do peito só que o amor se exala;
Grega sublime, Psiquê formosa,
Num sonho doce quem te ouvira a fala,
O riso meigo, o harmonioso anseio
Dos teus enlevos!... Nas madeixas tuas
Ah! quem pousara de um suspiro, ao menos,
O tênue mimo... nas espáduas nuas!
Mas, sonhadora, que altivez é essa?
Deixando os lábios, vais beijar as flores?
Dá que o teu seio deslumbrante e meigo
Nos mostre a vida dentro em seus fervores,
O vento fresco das manhãs saudosas,
O azul da vaga, que desperta agora,
Todo o sussurro, que os jasmins ondeiam,
Por tuas graças é que tudo adora.
Oh! bela imagem das ternuras brandas,
O teu perfume pelo céu foi feito;
Tu, que acordaste de uma cisma aos frocos
Envolta, e nua do sidéreo leito,
Lindo o teu corpo, que as paixões desfolhas
Já de cansadas de te ver ausente,
Dize - nas dobras de teu seio - oculta
Também uma alma não palpita e sente?
Como que a vida se evapora em risos,
Lá no sacrário dessa noiva santa!,
As nuvens louras dos cabelos soltos,
Rosada a boca, que as manhãs encanta,
Inda mais bela se às estrelas fala,
Não... não é tudo... mas o puro espanto
Dos seus olhares, que refletem mudos
A glória e a sorte em divinal quebrando?!
Sim, ver-lhe o corpo, na expressão de um sonho,
Tingida a neve pela cor das rosas,
Tão transparente, que a sua alma em êxtase
Mostra-se toda nas feições mimosas,
Ver como um susto lhe descora a face,
Como um anelo lhe intumesce o seio,
É ter a fronte sepultada em brilhos
Longe os mistérios desvendando a meio.
Sentir-lhe a vida perfumosa, em ondas
Rolando cheia, borbulhando em flores,
E sob o colo lhe ver a alma aberta
Em seus eflúvios, lá nos seus fulgores,
Belo espetáculo! E como todo o riso
São devaneios, são caprichos vagos,
Como os desejos os ondulamentos
De alguma idéia que suspira afagos!...
O céu brilhante dessa plaga helênica
Sopra a bafagem perfumosa e amena,
E lá dos astros desce o encanto fúlgido,
A paz, a calma, a mansidão serena.
E com os enleios de sereia lânguida,
E com os arroubos de bacante louca,
Todos os sonhos, palpitantes, túmidos,
Abrem as asas... A amplidão é pouca!
É da alma a empresa. Que expansões suaves!
Assim Homero devassara a sorte,
Platão entrava na surtida, às vezes,
Trazendo sempre mais um raio forte.
Aqui da América na agitada arena
Cada um suspiro traz um céu no fundo,
A cada idéia não sacia um astro,
Que nós sentimos vacilar o mundo.
Sim,nós provamos que o tufão que passa
Traz-nos de longe alguma nova infinda;
Que a flor aberta à madrugada amável
Sabe um segredo que não disse ainda.
Voai desejos! aquecei-vos todos
À luz sagrada deste sol que brilha
Mas que parece também procura
D´outras grandezas a sonhada trilha
Sílvio Romero
(Em Cantos do fim do século,1878)
sexta-feira, abril 20, 2007
Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos, nascido a 20 de Abril de 1884, foi um poeta brasileiro que fez a transição do simbolismo e do parnasianismo para o modernismo, sendo classificado por muitos críticos literários como pré-moderno.
Tendo vivido apenas 30 anos (morreu de pneumonia em 1914), deixou um único livro de poemas editado, a que chamou Eu, e alguma poesia dispersa por periódicos em que colaborou. Após a sua morte, o seu amigo Órris Soares organizou uma edição chamada Eu e Outras Poesias, que incluiu poemas até então não publicados.
Famoso pela originalidade temática e vocabular, Augusto dos Anjos recorreu a uma infinidade de termos científicos, biológicos e médicos ao escrever os seus poemas, nos quais expressa, por princípio, um pessimismo atroz.
Quer em vida quer quando morreu, ninguém o reconheceu . Ninguém o compreendeu, ninguém lhe leu os versos nos cafés superficialmente afrancesados do Rio de Janeiro, e é até conhecida a cena de um dos seus raros admiradores que leu um soneto de Augusto dos Anjos a Olavo Bilac e recebeu a resposta desdenhosa: "É este o seu grande poeta? Fez bem ter morrido!"
Quem salvou a fama póstuma de Augusto dos Anjos foi o seu povo, do Nordeste e do interior do Brasil. A abundância de estranhas expressões científicas e de palavras esquisitas existente nos seus versos atraiu os leitores semi-cultos que, muito provavelmente, não compreendiam nada da sua poesia, mas ficavam fascinados pelas metáforas de decomposição dos seus versos, tal e qual como estavam em decomposição as suas vidas.
Nada menos do que 31 edições do seu livro Eu dão testemunho dessa imensa popularidade, que repeliu os leitores exigentes ( e os pseudo cultos), de tal modo que, até durante a fase modernista da literatura brasileira, os versos de Augusto dos Anjos passaram por exemplos de mau gosto.Foram alguns poucos leitores dedicados que conseguiram reivindicar e restabelecer a verdadeira grandeza de Augusto dos Anjos: Álvaro Lins, Antônio Houaiss, Francisco de Assis Barbosa e alguns outros.
Constitui uma curiosidade o facto de um exemplar do Eu fazer parte da Biblioteca da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, por causa dos termos científicos que utilizou na sua obra.
Psicologia de um vencido
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme - este operário das ruínas -
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
Augusto dos Anjos
quinta-feira, abril 19, 2007
Escritor prolífico, publicou o seu primeiro livro de poesia, Horas de Ócio, aos 19 anos, o qual não foi muito bem recebido pela crítica. Aos 21 anos ingressou na Câmara dos Lordes e, em seguida, empreendeu uma viagem de 2 anos por vários países da Europa, entre os quais Portugal, Espanha, Albânia, Malta e Grécia.
A sua passagem por Portugal foi marcada por um infortúnio amoroso causado por um marido ciumento, o que, segundo biógrafos seus, está na origem das depreciativas referências que faz, não só a Portugal mas também aos Portugueses, numa das sua obras primas A Peregrinação de Childe Harold.
De regresso a Inglaterra, em 1812, publicou os dois primeiros cantos de A Peregrinação de Childe Harold, uma espécie de diário poético que revela os seus estados de alma. Este poema obteve êxito estrondoso e tornou famoso Lord Byron, tanto pela sua forma de cultivar o oriental e o exótico como pela sua meditação filosófica de ordem romântica. Nele, o poeta apresenta-se a si mesmo como um característico filho do seu tempo, um janota misterioso e homem fatal para si mesmo e para os outros. Os terceiro, quarto e quinto cantos serão escritos, entre 1816 e 1818, em Itália, onde continua a sua vida caracterizada pelo escândalo e pelo abuso do álcool.
Entre 1818 e 1824 escreveu a outra sua obra prima, embora inacabada, Don Juan, obra satírica em tom burlesco. Em 1833, 9 anos após a sua morte, o seu editor publicou 17 volumes de toda a sua obra, incluindo a biografía de Thomas Moore. Don Juan, em 17 cantos, foi um dos mais importantes grandes poemas publicados em Inglaterra, depois de O Paraíso Perdido, de John Milton. Don Juan teve influência a nível social, político, literário e ideológico e serviu de inspiração para os autores vitorianos.
Foi admirado por muitos dos seus contemporâneos , como Goethe, e pelas gerações seguintes, como Edgar Allan Poe.
Soneto de Chillon
Alma eterna da mente sem cadeias!
De mais brilho em masmorras. Liberdade!
Pois lá é o coração a tua herdade -
Ela a quem só por ti o amor enleia;
E quando acorrentados ao relento
Teus filhos em grilhões, cela sombria,
Sua terras conquistam na agonia
E a Liberdade acha asa em cada vento.
Chillon! tua prisão é um santo espaço
E, altar, teu solo triste - pois pisado,
Até que o próprio andar deixasse um traço
Gasto, tal fosse o chão frio um relvado,
Por Bonnivard! Não sumam esses passos!
A tirania, a Deus, têm revelado.
Lord Byron
(tradução de José Lino Grünewald)
quarta-feira, abril 18, 2007
Antero espalhou saber pela poesia, filosofia e política. Tendo estudado direito em Coimbra, onde brilhou como líder estudantil, esteve envolvido na famosa Questão Coimbrã.
A conhecida disputa literária, ocorrida nos anos de 1865-66, é um marco na nossa literatura. Tudo começou quando António Feliciano de Castilho (velho mestre de Antero) criticou, numa carta-prefácio ao livro Poema da Mocidade, de Pinheiro Chagas, a nova geração de poetas, especialmente Antero de Quental e Teófilo Braga. Os dois responderam com outros poemas instigando o sentimento contrário às tradições românticas, políticas e religiosas. Isso fez com que os intelectuais e estudantes se dividissem: de um lado, os defensores de António Feliciano de Castilho, Camilo Castelo Branco e Ramalho Ortigão (românticos); do outro, os defensores de Antero de Quental e Teófilo Braga (realistas). A polémica só terminou com um duelo entre Antero e Ramalho, que se saldou por ferimentos ligeiros nos dois. A honra das partes estava salva e Antero e Ramalho tornaram-se amigos.
Juntamente com Eça, Ramalho, João de Deus, Manuel de Arriaga e tantos outros fundou, em 1869 o chamado grupo do Cenáculo, uma espécie de tertúlia onde se discutiam as novas ideias que chegavam da França.
Integrou a redacção de jornais de orientação socialista, como “A República” e o “Pensamento Social” e ajudou a fundar a Associação Fraternidade Operária, representante em Portugal da Primeira Internacional Operária.
Dentro do mesmo espírito de intervenção, participou, em 1871, na organização das “Conferências do Casino”, tendo sido autor de um dos textos mais célebres da série – Causas da Decadência dos Povos Peninsulares .
Antero é considerado o guia espiritual da geração de 70, um agitador político a tempo inteiro, que se afirmou pelo desejo de intervenção e renovação da vida política e cultural portuguesa. Tinha uma personalidade complexa, que oscilava entre a euforia e a mais profunda depressão (o que é hoje conhecido como “doença bipolar”), acabando por se suicidar, com um tiro de revólver, em 11 de Setembro de 1881.
Hino à Razão
Razão, irmã do Amor e da Justiça,
Mais uma vez escuta a minha prece.
É a voz dum coração que te apetece,
Duma alma livre, só a ti submissa.
Por ti é que a poeira movediça
De astros e sóis e mundos permanece;
E é por ti que a virtude prevalece,
E a flor do heroísmo medra e viça.
Por ti, na arena trágica, as nações
Buscam a liberdade, entre clarões;
E os que olham o futuro e cismam, mudos,
Por ti, podem sofrer e não se abatem,
Mãe de filhos robustos, que combatem
Tendo o teu nome escrito em seus escudos!
Antero de Quental
terça-feira, abril 17, 2007
A canção “ranchera” é um género musical muito masculino e sensual, cantado, geralmente, por homens. Chavela costumava cantar canções normalmente interpretadas por homens sobre o seu desejo pelas mulheres. Vestia-se como homem, fumava charuto, bebia muito, andava de pistola à cintura e era reconhecida pelo seu característico “poncho” vermelho. Numa entrevista à televisão colombiana, em 2000, expressou abertamente a sua qualidade de lésbica.
O seu primeiro álbum apareceu em 1961 e, desde então, gravou mais de 80 discos. Retirou-se parcialmente em finais dos anos setenta, mas regressou em todo o seu esplendor em 1991.
Em 2002 apareceu no filme Frida, cantando o seu grande clássico Paloma Negra. Na sua juventude ela mesma teve, supostamente, um idílio com a pintora mexicana Frida Kahlo, retratada no referido filme. Também apareceu em Babel, cantando "Tú Me Acostumbraste", imortal bolero de Frank Domínguez.
Paloma Negra
Ya me canso de llorar y no amanece,
ya no se si maldecirte o por ti rezar.
Tengo miedo de buscarte y de encontrarte
donde me aseguran mis amigos que te vas.
Hay momentos en que quisiera mejor rajarme
y arrancarme ya los clavos de mi penar,
pero mis ojos se mueren sin mirar tus ojos
y mi cariño con la aurora te vuelve a buscar.
Ya agarraste por tu cuenta la parranda,
paloma negra, paloma negra ¿dónde andarás?
ya no juegues con mi honra, parrandera,
si tus caricias deben ser mias, de nadie más.
Y aunque te amo con locura: ya no vuelvas,
paloma negra, eres la reja de un penal.
Quiero ser libre, vivir mi vida con quien yo quiera,
Dios dame fuerzas que estoy muriendo por irla a buscar.
Ya agarraste por tu cuenta las parrandas.
(Tomás Mendez Sosa)
segunda-feira, abril 16, 2007
domingo, abril 15, 2007
Hoje é mais um dia grande para os amantes da Matemática. Com efeito, há exactamente 300 anos (15 de Abril de 1707), nasceu em Basileia, na Suiça, Leonhard Euler, um dos maiores matemáticos de todos os tempos, a quem alguns têm chamado O Mozart da Matemática.
Em 1727 foi para a Rússia, a convite de Catarina I, viúva de Pedro, O Grande, a quem os irmãos Bernoulli - seus amigos e filhos de Johann Bernoulli, com quem tinha estudado - tinham convencido a chamá-lo. E assim, aos 20 anos, começou a leccionar Física e Matemática na Academia de São Petersburgo.
Viveria na Rússia durante mais de 30 anos, até à sua morte em 1783, em dois períodos de tempo interrompidos pelos 25 anos que trabalhou na Academia das Ciências de Berlim, a convite de Frederico II.
Durante a sua vida escreveu mais de 800 trabalhos, entre livros e ensaios. Em 1775, por exemplo, já praticamente cego, publicou, em média, um ensaio por semana, com uma extenção entre 10 e 50 páginas (para um matemático moderno, a publicação de 20 ensaios durante toda a vida já é considerado um bom resultado)
Em 1988, o jornal The Mathematical Intelligencer, que publica artigos sobre matemática, os matemáticos, e a história e cultura da matemática, pediu aos seus leitores para listar as mais bonitas equações da matemática. Nas 5 primeiras ficaram 3 de Euler (que se podem ver na fotografia), sendo as outras 2 de Euclides.
A número 1 foi a chamada Identidade de Euler, na fotografia (clicar na imagem para aumentar), em baixo, à esquerda. A beleza desta equação reside no facto de ela reunir 5 dos mais curiosos e interessantes números da matemática: O "0" e o "1" ( que são as bases da aritmética por serem os elementos neutros respectivamente da soma e da multiplicacção) ,o "pi" (o número mais importante da geometria), o "i" (número imaginário e o número mais importante da álgebra) e o e (a base dos logarítmos naturais e o número mais importante da análise matemática).
No meio, à direita, podemos ver a o Teorema dos Poliedros de Euler, que nos dá, para qualquer Poliedro, a relação entre o número de vértices, o número de faces e o número de arestas ( o número de vértices mais o número de faces = ao número de arestas + 2).
Por último, em cima, à esquerda,temos a soma dos inversos dos quadrados, numa série infinita. Para além da soma dos inversos dos quadrados, Euler encontraria, também, a fórmula da soma dos inversos de potência 4 e 6.
sábado, abril 14, 2007
Valdimir Vladimirovich Maiakovski, falecido em Moscovo a 14 de Abril de 1930, influenciou profundamente todo o desenvolvimento da moderna poesia russa. Haroldo de Campos, poeta brasileiro, disse dele, em comentário publicado no livro “Maiakovski – Poemas” ( Editora Perspectiva -1982) o seguinte:
“Vladimir Maiakovski é o maior poeta russo moderno, aquele que mais completamente expressou, nas décadas em torno da Revolução de Outubro, os novos e contraditórios conteúdos do tempo e as novas formas que estes demandavam.
Maiakovski deixa descortinar em sua poesia um roteiro coerente, dos primeiros poemas, nitidamente de pesquisa, aos últimos, de largo hausto, mas sempre marcados pela invenção. "Sem forma revolucionária não há arte revolucionária", era o seu lema, e nesse sentido Maiakovski é um dos raros poetas que conseguiram realizar poesia participante sem abdicar do espírito criativo”.
Politicamente comprometido com a Revolução de Outubro, entrou frequentemente em choque com os “burocratas” e com os que pretendiam reduzir a poesia a fórmulas simplistas. Homem de grandes paixões, arrebatado e lírico, épico e satírico ao mesmo tempo, pôs termo à vida com um tiro no peito, aos 37 anos, pensa-se que devido a desgostos amorosos.
Parte da sua obra poética encontra-se traduzida para o português do Brasil. Da que consegui encontrar, escolhi o poema “Estrela”:
Escutai! Se as estrelas se acendem
será por que alguém precisa delas?
Por que alguém as quer lá em cima?
Será que alguém por elas clama,
por essas cuspidelas de pérolas?
Ei-lo aqui, pois, sufocado, ao meio-dia,
no coração dos turbilhões de poeira;
ei-lo, pois, que corre para o bom Deus,
temendo chegar atrasado,
e que lhe beija chorando
a mão fibrosa.Implora!
Precisa absolutamente
duma estrela lá no alto!
Jura! Que não poderia mais suportar
essa tortura de um céu sem estrelas!
Depois vai-se embora,
atormentado, mas bancando o gaiato
e diz a alguém que passa:
"Muito bem! Assim está melhor agora, não é?
Não tens mais medo, hein?"
Escutai, pois! Se as estrelas se acendem
é porque alguém precisa delas.
É porque, em verdade, é indispensável
que sobre todos os tetos, cada noite,
uma única estrela, pelo menos, se alumie.
(Tradução E. Carrera Guerra)
sexta-feira, abril 13, 2007
É, sobretudo, conhecido pelas suas fábulas, que povoaram o imaginário da nossa meninice, embora a maioria tenha um sentido profundo, bem mais adequado à compreensão adulta. Escreveu e reescreveu mais de duas centenas (a minha colectânea tem 240 e não sei se estão todas), entre elas algumas de Esopo, como A Lebre e a Tartaruga, O Homem, O Menino e a Mula, O Leão e o Rato, O Carvalho e o Caniço, A Reunião dos Ratos, A Cigarra e a Formiga, A Raposa e as Uvas ou O Pavão Invejoso.
Mas a sua obra poética é digna de destaque. Lamentavelmente, não encontrei qualquer referência a eventuais traduções da sua poesia para o português, mesmo o do Brasil. Como julgo que as pessoas que se dão ao trabalho de me visitar entenderão francês, arrisco a versão original do poema O Amor e a loucura.
L’Amour et la folie
Tout est mystère dans l'Amour,
Ses flèches, son carquois, son flambeau, son enfance:
Ce n'est pas l'ouvrage d'un jour
Que d'épuiser cette science.
Je ne prétends donc point tout expliquer ici:
Mon but est seulement de dire, à ma manière,
Comment l'aveugle que voici
(C'est un dieu), comment, dis-je, il perdit la lumière;
Quelle suite eut ce mal, qui peut-être est un bien
J'en fais juge un amant, et ne décide rien.
La Folie et l'Amour jouaient un jour ensemble:
Celui-ci n'était pas encor privé des yeux.
Une dispute vint : l'Amour veut qu'on assemble
Là-dessus le conseil des Dieux;
L'autre n'eut pas la patience;
Elle lui donne un coup si furieux,
Qu'il en perd la clarté des cieux.
Vénus en demande vengeance.
Femme et mère, il suffit pour juger de ses cris:
Les Dieux en furent étourdis,
Et Jupiter, et Némésis,
Et les Juges d'Enfer, enfin toute la bande.
Elle représenta l'énormité du cas;
Son fils, sans un bâton, ne pouvait faire un pas:
Nulle peine n'était pour ce crime assez grande:
Le dommage devait être aussi réparé.
Quand on eut bien considéré
L'intérêt du public, celui de la partie,
Le résultat enfin de la suprême cour
Fut de condamner la Folie
A servir de guide à l'Amour.
quinta-feira, abril 12, 2007
quarta-feira, abril 11, 2007
Sobrevivente do campo de concentração de Auschwitz, onde esteve desde 11 de Fevereiro de 1944 até ser libertado pelo exército vermelho em 27 de Janeiro de 1945, Primo Levi, celebrado escritor italiano, faleceu há 20 anos.
Regressado a Itália depois de ter recuperado da escarlatina que o tinha acometido (e que o salvou da marcha da morte), dedicou o resto da sua vida a tornar conhecida, no mundo inteiro, a existência dos campos de concentração nazis, ao mesmo tempo que tinha uma carreira de sucesso na indústria química, como cientista (era diplomado em Química).
Queria, sobretudo, que os jovens nascidos livres, que nada sabiam de racismo, de anti-semitismo ou de massacre de inocentes, entendessem que os campos de extermínio eram o epílogo necessário de qualquer sistema de pensamento baseado no dogma da desigualdade. Queria que se entendesse o abismo a que necessariamente conduzem o ofuscar do raciocínio, o ódio pelo diferente, a intolerância, o fanatismo, o desprezo pelo Outro.
O poema que tanscrevo encontra-se no romance Se non ora,quando?, interrogação que o autor repete - juntamente com outras interrogações - no final de cada estrofe, porque é, na realidade, a letra de uma música, aliás, da marcha que um personagem toca e canta em baixo tom: diz ele ser esta uma música sua e que, por não estar escrita em lugar nenhum, muda sempre um pouco, mas a letra tinha sido escrita por um prisioneiro judeu, que cantava e tocava as canções que ele escrevia. Foi preso e revistado por um soldado alemão que encontrou no seu bolso uma pequeníssima flauta e, como amava a música, lhe concedeu um último desejo. O judeu pediu meia hora de tempo para escrever uma canção; passada a meia hora, o alemão ficou com a canção e matou o judeu. Depois disso, o soldado alemão foi morto pelos colegas do judeu que recuperaram a canção e passaram a cantá-la quando se sentiam tristes.
Reconhecei-nos? Somos as ovelhas do gueto,
Tosadas por mil anos, resignadas à ofensa.
Somos os alfaiates, os copistas e os cantores
Secos à sombra da Cruz.
Agora aprendemos os caminhos da floresta,
Aprendemos a disparar e atiramos directo.
Se não for eu para mim, quem será por mim?
Se não assim, como? E se não agora, quando?
Os nossos irmãos subiram ao céu
Pelos caminhos de Sobibór e de Treblinka,
Cavaram-se um túmulo ao ar livre
Somente poucos de nós sobrevivemos
Pela honra do nosso povo submerso
Pela vingança e testemunho
Se não for eu para mim, quem será por mim?
Se não assim, como? E se não agora, quando?
Somos filhos de David e os obstinados de Massada,
Cada um de nós leva no bolso a pedra
Que quebrou a testa de Golías.
Irmãos, vamos embora da Europa dos túmulos:
Subimos juntos em direcção à terra
Onde seremos homens entre os outros homens
Se não for eu para mim, quem será por mim?
Se não assim, como? E se não agora, quando?
(Tradução retirada daqui)
terça-feira, abril 10, 2007
segunda-feira, abril 09, 2007
Nascido em Paris a 9 de Abril de 1821,
Charles-Pierre Baudelaire , poeta e crítico frances, é o mais influente dos chamados poetas malditos. Considerado um dos precursores do Simbolismo, a sua obra teórica também influenciou profundamente as artes plásticas do seculo XIX.
Famoso, sobretudo, pelas suas Flores do mal, influenciou toda a poesia simbolista mundial e lançou as bases da poesia moderna. Da sua obra derivaram os procedimentos anticonvencionais de Rimbaud e Lautréamont, a musicalidade de Verlaine, o intelectualismo de Mallarmé, e a ironia coloquial de Laforgue.
De Flores do mal, Tristezas da Lua:
Divaga em meio à noite a lua preguiçosa;
Como uma bela, entre coxins e devaneios,
Que afaga com a mão discreta e vaporosa,
Antes de adormecer, o contorno dos seios.
No dorso de cetim das tenras avalanchas,
Morrendo, ela se entrega a longos estertores,
E os olhos vai pousando sobre as níveas manchas
Que no azul desabrocham como estranhas flores.
Se às vezes neste globo, ébria de ócio e prazer,
Deixa ela uma furtiva lágrima escorrer,
Um poeta caridoso, ao sono pouco afeito,
No côncavo das mãos toma essa gota rala,
De irisados reflexos como um grão de opala,
E bem longe do sol a acolhe no seu peito.
domingo, abril 08, 2007
sábado, abril 07, 2007
sexta-feira, abril 06, 2007
Já lívido repousa em seu regaço.
Já não escuta, não vê, não ri, não fala.
Aquele que foi Seu filho, Ela o embala
Morto, alheia a tempo e espaço.
O mistério parou no limiar dos assombros.
Dos irados profetas, das rígidas escrituras
Sobra um Deus morto; e os únicos escombros
São a atónita aflição das criaturas.
Eles choram, vários, como vários são
Sua revolta e sua dor. Absorto,
O olhar da Mãe escorre, inútil, no chão.
Ela, o que chora? O Deus parado - ou o filho morto?
Reinaldo Ferreira
quinta-feira, abril 05, 2007
Conferência à Imprensa
O processo
- O que importa é virá-lo do avesso,
Mudar as intenções,
Interpretar,
Sofismar -
Deve ser rápido e sumário.
Termos, preceitos, norma,
É tudo forma,
Matéria de processo e convenção.
Ao cabo, é o Calvário
Que é preciso atingir.
Alguém tem de subir.
Eu não quis, sou juiz.
Aos senhores,
Mais propagadores
De tudo o que acontece
- De todo o que parece
Que acontece
E passa a acontecer -
E disto e daquilo
- E da Verdade, às vezes -
Reinaldo Ferreira
(Reinaldo Ferreira foi um poeta Moçambicano, falecido com 37 anos de idade, filho do jornalista homónimo, o célebre Repóter X)
Homossexual assumido e defensor de muitas causas, desde os direitos dos homossexuais à liberdade de expressão, esteve na linha da frente da luta contra a Guerra do Vietname, inspirou profundamente a cultura americana e mundial e a sua influência ainda hoje se faz sentir. Positivamente, dirão uns; negativamente, ripostarão os mais conservadores. Para mim, que fui seu contemporâneo durante quase 50 anos, um pouco das duas coisas, com influências muito positivas em alguns aspectos (luta conta a Guerra do Vietname, pela liberdade de expressão, pelos direitos das minorias, pela libertação de tabus, pela denúncia da caça às bruxas) e algumas (poucas) negativas (apologia das drogas como libertadoras, nomeadamente o LSD, por exemplo).
Existem dele vários poemas traduzidos para o português do Brasil, incluindo um da obra Kaddish and Other Poems, dedicado ao também poeta americano Vachel Lindsay (1879-1931) que se suicidou bebendo uma garrafa de Lysol, um detergente de limpeza doméstica.
Mas, para se traduzir poesia, é necessário, além de ser muito bom poeta, dominar na perfeição as línguas original e de destino. Com os meus escassos conhecimentos, considerei que as traduções não fazem jus ao original, pelo que optei por mantê-lo.
To Lindsay
Vachel, the stars are out
dusk has fallen on the Colorado road
a car crawls slowly across the plain
in the dim light the radio blares its jazz
the heartbroken salesman lights another cigarette
In another city 27 years ago
I see your shadow on the wall
you’re sitting in your suspenders on the bed
the shadow hand lifts up a Lysol bottle to your head
your shade falls over on the floor.
Paris, Maio de 1958
quarta-feira, abril 04, 2007
Chamava-se Fernando José Salgueiro Maia e tinha apenas 29 anos quando, pelas 3H30 do dia 25 de Abril de 1974, a porta de armas da Escola Prática de Cavalaria (EPC) , de Santarém, foi atravessada por uma coluna sob o seu comando, composta por dez viaturas blindadas, doze de transporte, duas ambulâncias, um jipe e uma viatura civil de exploração. Objectivo principal: Toledo ou, descodificando, o Terreiro do Paço (em Lisboa) e os seus ministérios.
Foi ele que, na Rua do Arsenal, avançou a pé e sozinho, de braços erguidos e agitando um lenço branco, em direcção aos blindados pertencentes às forças fiéis à ditadura, comandadas por um brigadeiro. Para seu bem e de todos nós, os operacionais dos blindados não obedeceram às ordens de fogo dadas pelo brigadeiro em pânico.
Tomado o Terreiro do Paço, dirigiu-se ao quartel da GNR no Largo do Carmo, onde Caetano se tinha refugiado. Deu ordem de rendição, foi dialogar com Caetano e, depois, esperou que Spínola fosse colher os louros.
Como sublinha Carlos Loures em Vidas Lusófonas, “tudo se pode resumir a uma breve legenda: Salgueiro Maia, soldado português que à frente de 240 homens e com dez carros de combate da EPC avançou em 25 de Abril de 1974 sobre Lisboa, ocupou o Terreiro do Paço levando os ministros de um regime ditatorial de quase 50 anos a fugir como coelhos assustados, cercou o Quartel do Carmo obrigando Marcelo Caetano a render-se e a demitir-se. Atingiu o posto de tenente-coronel, recusou cargos de poder. É o mais puro símbolo da coragem e da generosidade dos capitães de Abril”.