terça-feira, abril 24, 2007

O POETA E A LUA Em meio a um cristal de ecos O poeta vai pela rua Seus olhos verdes de éter Abrem cavernas na lua. A lua volta de flanco Eriçada de luxúria O poeta, aloucado e branco Palpa as nádegas da lua. Entre as esferas nitentes Tremeluzem pelos fulvos O poeta, de olhar dormente Entreabre o pente da lua. Em frouxos de luz e água Palpita a ferida crua O poeta todo se lava De palidez e doçura. ardente e desesperada A lua vira em decúbito A vinda lenta do espasmo Aguça as pontas da lua O poeta afaga-lhe os braços E o ventre que se menstrua A lua se curva em arco Num delírio de volúpia. O gozo aumenta de súbito Em frêmitos que perduram A lua vira o outro quarto E fica de frente, nua. O orgasmo desce do espaço Desfeito em estrelas e nuvens Nos ventos do mar perpassa Um salso cheiro de lua. E a lua, no êxtase, cresce Se dilata e alteia e estua O poeta se deixa em prece Ante a beleza da lua. Depois a lua adormece E míngua e se pazígua... O poeta desaparece Envolto em cantos e plumas Enquanto a noite enlouquece No seu claustro de ciúmes. Vinícius de Morais

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