quarta-feira, janeiro 07, 2009

Pateticismo e patetismo Por princípio, apenas ouço telejornais na RTP, não apenas porque é um canal pago com os meus impostos e as experiências de “crimes de faca e alguidar” que tive com os outros canais foram muito más, mas sobretudo porque, sendo um serviço público, tem a obrigação de mostrar uma certa imparcialidade. Não tem sido assim no relato do que se está a passar na Faixa de Gaza, com a pateta e patética Márcia Rodrigues a debitar “bocas” que mais parecem comunicados do Ministério do Ataque israelita. É certo que a senhora talvez não possa ir - e julgo que não iria, mesmo que pudesse, tal o medo estampado no rosto quando teve de participar num provável simulacro de fuga para um abrigo - ao “outro lado” para ver o que lá se passa, embora haja quem vá, ou tinha ido quando era possível e ainda lá permaneça. Mas há coisas que nem um aprendiz de jornalista pode escamotear, tais como: 1. Que o Hamas é uma criação de Israel e dos seus serviços secretos quando, nos anos oitenta, era necessário um grupo de diversão para tentar dividir a então bem organizada (e reconhecida internacionalmente) OLP; 2. Que, queiramos ou não, o detestemos ou nos seja indiferente, o Hamas foi livremente eleito em eleições supervisionadas pela União Europeia, obtendo uma substancial maioria na Autoridade Palestina. E, contrariamente ao que já vi escrito, não conquistou a vitória pela força das armas, mas sim por se ter tornado relevante pelos serviços que prestou aos refugiados e pela prestimosa ajuda da corrupção instalada na Fatah; 3. Que Israel, com o total apoio dos Estados Unidos, respondeu a essa eleição com incursões na Faixa de Gaza e na Cisjordânia para raptar um grande número de eleitos, que foram metidos nas prisões de Israel pelo único crime de terem sido eleitos não sendo “paus mandados” dos israelitas. 4. Que a Fatah, vista pela maioria dos palestinos como traidora ao serviço de Israel, largamente minoritária após as eleições, se envolveu numa luta com o Hamas estimulada por Israel, de que resultou o colapso da Autoridade Palestina, com o Hamas a governar Gaza e a Fatah a Cisjordânia e que Israel e os Estados Unidos de imediato apoiaram a sua protegida, rejeitada pela população. Ao contrário do que também já vi escrito, o colapso da AP não foi provocado pela força das armas do Hamas, mas pela recusa da Fatah em aceitar a derrota e governar em conjunto, em clara minoria; 5. Que Israel impôs, de imediato, devastadoras sanções económicas a Gaza e pressionou fortemente a UE para que o Hamas fosse declarado um grupo terrorista; 6. Que aos palestinos de Gaza só resta a alternativa de tentar combater ou morrer; 7. Que Israel violou sucessivamente o cessar fogo, matando e prendendo dezenas e dezenas de palestinos e impondo um embargo total, por terra, mar e ar, desde 5 de Novembro passado, expulsando intelectuais judeus críticos do belicismo e até o próprio representante das Nações Unidas para os Direitos Humanos; 8. Que as eleições israelitas são em Fevereiro, que há uma espécie de vazio de poder na Casa Branca e que a assassina monstruosa que dá pelo nome de Tzipi “não há tragédia humanitária em Gaza” Livni, a perder terreno para Netayahu, lançou, em conluio com os seus compinchas do Kadima, um mortífero ataque à região mais densamente povoada do globo, exclusivamente para ser eleita primeira ministra, não importa à custa de quantos cadáveres do odiado inimigo. Talvez a cabeça da enviada da RTP não tenha capacidade para fazer a leitura dos acontecimentos mas, que diabo!, o José Rodrigues dos Santos (que, pelo menos, seria menos mau) ainda lá está, o dinheiro gasto seria o mesmo e a informação seria, certamente, de uma qualidade menos má. Após a elaboração desta posta, tomei conhecimento de um extenso artigo publicado no The Guardian de hoje, da autoria do insuspeito historiador judeu, professor de relações internacionais em Oxford e antigo membro do exército israelita, Avi Shlaim. Recomendo a todos a sua leitura atenta, principalmente aos que, porventura, pensem que eu exagero.

1 comentário:

Anónimo disse...

Márcia Rodrigues, e não é só agora, dá-me voltas ao estômago. Gosto de a ver com aquele colete anti-balas e aquele ar guerreiro, e "convicta" de que está a dizer uma série de palermices, mas isto sou eu a falar... Há uma fraja considerável que se excita ao ouvi-la falar do número de mortos como se estivesse a falar de maçãs ou algo parecido.