quarta-feira, janeiro 14, 2009

Coroa mural Muro que hoje separa os homens em passado e futuro, que divide, agora, o coração em dois: em oriente e ocidente. Divide o sol em dois: em dois mistérios. Divide o mundo em dois: em dois hemisférios, Ou em dois cemitérios? No labirinto do desentendimento humano o anjo rebelde se debate em busca de uma saída. E ao mesmo tempo, é expulso de uma cor para outra, deixando os pés escritos em areia e neve, na rude geografia das injustiças. (Só a dor e as estrelas são universais). Mas, como destrui-lo? Com as velhas trombetas de Jericó, já douradas de pó? Recolocando, no ar, em seu lugar, agora o novo arco celeste de uma ponte pênsil? Ou com a lira em flor Que Anfião tocou em Tebas? Anfião, a quem possam as pedras transformar-se, de novo, em pássaros? Ou com o sol de hidrogénio e só pelo consolo de morrermos, todos, - todos, ao mesmo tempo - e, assim, um ser irmão do outro, por prêmio? Ah! o herói obscuro a quem - todos - pudéssemos, os que sofremos dentro e fora do muro; de um só mal, todos presa, ofertar, toda em ouro, a coroa mural, Igual à que os romanos, num afresco antigo, estão oferecendo, sob um céu de turquesa, ao primeiro soldado que escalou a muralha de uma fortaleza. O dia é geográfico A noite é universal. Mas, se Deus ouvir rádio, esteja onde estiver, ouvirá o meu grito: por que a noite nos une e o dia nos separa? Cassiano Ricardo* *poeta brasileiro

1 comentário:

Deleir Inácio de Assis disse...

Acompanho seu blog e gostaria de ler algo escrito por você e para nós, leitores assíduos na busca de bons escritos. Gosto de Cassiano Ricardo(conhece Relógio?), mas queria ler algo de sua autoria. Até logo!