sexta-feira, julho 20, 2007

Um salto de gigante


Já lá vão 38 anos, mas recordo-me de ter passado a noite em claro, de olhos pregados no aparelho de televisão, à semelhança de centenas de milhões de pessoas em todo o mundo.

Às 20:17:40 UTC (tempo do meridiano “0”, ex-TMG) do dia 20 de Julho de 1969, o módulo lunar Eagle pousou na superfície da Lua, depois de uma viagem de 4,5 minutos desde a nave especial Apolo 11. Cerca de 6,5 horas depois, pelas 2:56 UTC de 21 de Julho, o comandante Neil Armstrong tornava-se o primeiro homem a pisar o solo lunar. Foi então que pronunciou a célebre frase “Este é um pequeno passo para um homem, mas um salto gigante para a humanidade”.

A frase original “That’s one small step for a man, one giant leap for mankind” tem, desde então, sido alvo de polémica, porque nos registos sonoros, aparentemente o astronauta não pronuncia o artigo “a” antes da palavra “man”, o que foi por muitos considerado um erro ou omissão da sua parte devido à excitação do momento. Neil Armstrong sempre afirmou que tinha dito “a man”, mas que o “a” não estava audível, pelo que, à falta de provas, declarou que preferia que o [a] aparecesse entre parênteses quando a citação fosse escrita. Até que, em Setembro de 2006, provas baseadas em novas análises dos registos sonoros levadas a cabo por Peter Shann Ford, de Sydney, Austrália, da empresa Control Bionics, que ajuda pessoas deficientes físicas a usarem os seus impulsos nervosos para comunicar através de computadores, demonstraram que Neil Armstrong tinha mesmo dito o tal “a”.

Este gigantesco salto da humanidade deu origem a várias lendas urbanas. Uma das que mais circulação teve a partir dos anos noventa (estava-se nos primórdios da internete) e que, ainda hoje, continua presente em muitos sítios da rede como sendo verídica, é uma piada de cariz sexual, bem ao estilo americano.

Quando Neil Armstrong, após o passeio lunar, ia a reentrar no módulo, fez uma enigmática observação. “Good luck, Mr. Gorsky”.

Muitas pessoas da NASA pensaram que era uma observação casual dirigida a algum cosmonauta da União Soviética. No entanto, após aturadas pesquisas, concluiu-se que não havia nenhum Gorsky, nem no programa espacial Soviético nem no Americano. Ao longo dos anos, muitas pessoas perguntaram a Armstrong o que significava aquela observação, mas a sua resposta era um sorriso.

Até que em Julho de 1995, em Tampa Bay, Florida, quando respondia a perguntas numa conferência de imprensa que se seguiu a um discurso, um jornalista interrogou-o sobre a enigmática observação de há 26 anos atrás e ele, finalmente, respondeu. Mr. Gorsky e a mulher já tinham falecido, pelo que podia contar a história.

Quando era criança, estava a jogar basebol com um amigo no jardim da casa dos pais, quando este bateu uma bola que foi parar debaixo da janela do quarto dos vizinhos da casa ao lado, que eram Mr. e Mrs Gorsky. Quando foi buscar a bola, o pequeno Neil ouviu a Sra. Gorsky gritar para o marido: “Oral sex! You want oral sex?! You’ll get oral sex when the kid next door walks on the moon!”

É uma histórica picante, mas é falsa, como tantas outras que circulam na rede. Nunca houve a tal conferência de imprensa, a frase não consta dos registos da NASA e o próprio Neil Armstrong, em finais de 1995, negou tê-la pronunciado e afirmou que a primeira vez que ouviu a anedota foi quando ela foi contada pelo comediante Buddy Hackett.

Só refiro este pormenor, porque já vi a história contada como verdadeira na nossa imprensa escrita. Não me lembro em que jornal, nem isso interessa. O que interessa é o nível da maior parte do nosso jornalismo, que continua a papaguear acriticamente aquilo que ouve ou lê, quantas vezes em questões de enorme gravidade.

(na imagem, Neil Armstrong dentro do Eagle)

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