segunda-feira, julho 16, 2007

A caça às bruxas polaca Em Portugal sabe-se pouco sobre o mais populoso dos países de leste que passaram a integrar a União Europeia em 1 de Maio de 2004, a Polónia. Para além de ter sido um gigantesco “campo de concentração” dos nazis, de ter pertencido ao extinto Pacto de Varsóvia, de ser o país do Solidariedade e do anterior Papa e de os seus “canalizadores” terem mobilizado centenas de milhares de pessoas em França e noutros países europeus, em pânico, aquando da discussão da Directiva Bolkestein, o conhecimento da verdadeira Polónia é diminuto e os nossos órgãos de comunicação social não tem aprofundado o assunto. País extremamente conservador tem, desde 2005, dois gémeos a governá-lo (o presidente e o primeiro ministro), à frente de uma coligação de direita e extrema direita, com o apoio da toda poderosa igreja católica. Para além dos problemas que, desde o início, levantou à União Europeia, agravados agora pela peregrina pretensão de que os eventuais descendentes que as vítimas do holocausto teriam tido, se este não se tivesse verificado, sejam contados como cidadãos actualmente existentes para apuramento do peso relativo de cada Estado Membro da União, a dupla Lech e Jaroslaw Kacynski fez promulgar um lei de autêntica caça às bruxas, conhecida como lei da “lustração” ou purificação, com muitos dos seus requisitos já declarados inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Polaco. A lei, em vigor desde 15 de Março, exige que todos os trabalhadores polacos, do sector público ou privado (políticos, juízes, professores, advogados, jornalistas, gestores de bancos, etc), nascidos antes de Agosto de 1972, declarem, por escrito, se colaboraram ou não com os serviços secretos do regime comunista. Quem não assinar ou prestar falsas declarações pode ser impedido de exercer a profissão ou de ocupar cargos públicos durante 10 anos. A situação é de tal forma grave que os manos até tentaram demitir do Parlamento Europeu Bronislaw Geremech, eleito deputado em 2004. Geremech, que é uma das mais distintas figuras públicas do seu país e foi líder do Solidariedade e prisioneiro político, recusou-se a assinar tal declaração e a intenção do governo polaco levantou um coro de protestos no Parlamento Europeu. Adam Michnik, historiador, jornalista, ensaísta, velho militante da oposição polaca e actual director da Gazeta Wyborcza, o mais importante diário da Polónia, escreveu um excelente artigo, publicado em tradução inglesa na The New York Review of Books de 11 de Junho, que merece leitura atenta. O acesso é livre e, para aguçar o apetite, eis o parágrafo final: “Hoje, confrontam-se duas Polónias: uma Polónia de suspeição, medo e vingança está a lutar contra uma Polónia de esperança, coragem e diálogo. Esta segunda Polónia – de abertura e tolerância, de João Paulo II e Czeslaw Milosz, dos meus amigos da clandestinidade e da prisão – tem de triunfar. Eu acredito que os Polacos irão, mais uma vez, defender o seu direito de serem tratados com dignidade. A decisão do Tribunal Constitucional dá-nos a esperança de que a segunda fase da revolução Polaca não irá destruir o seu “pai”, o desejo de liberdade, nem o sei “filho”, o estado democrático”.

3 comentários:

Estrela da Liberdade disse...

Sim a Polónia de facto era fonte de campos de concentração nos tempos nazis, Treblinka, Auschwitz-Birkenau, mais uma série deles.
Não fazia ideia que agora eram governados pela direita contudo quem não o é nas sociedades europeias dos dias de hoje?
Queres um exemplo? Que tal Portugal, Sócrates e a sua propaganda anti-democrata?

Bom beijinhos e não percebi o "nem digo nada" diz o que quiseres sempre, nem que sejam insultos ( a ditadura ainda não passou pelo meu tasco).
Beijos fica bem,
Jean

lino disse...

estrela:
Eu nunca insultei ninguém, conscientemente, durante toda a minha vida (excepto a mim mesmo, quando, às vezes, me olho ao espelho)e não seria agora que iria começar. O meu "nem digo nada", tinha mais a ver com a minha idade (física, está bom de ver).
Quanto à Polónia, não faças comparações dessas. Face aos tais gémeos, o "Paulinho das feiras" até é de centro esquerda. Com a tua idade, não sei se chegaste a conhecer o MIRN, mas a coligação polaca é uma espécie de PNR (acho que é assim que se chama aquele grupinho que odeia imigrantes, principalmente se não forem muito branquinhos), com muitos mais votos, infelizmente. Tenho pena de algum povo polaco, que por lá conheci a viver a liberdade recém conquistada, há uma dúzia de anos.

GMaciel disse...

É triste verificar que neste início de século e com o peso da História não muito distante, ainda haja lugar para este tipo de "democracias".
Sem margem para dúvidas, o Homem tem a tendência para andar em círculos, repetindo a cada volta os mesmos erros.
Não entraria num arremedo em encontrar paralelismos com o nosso Portugal, mas temos de ser lúcidos o suficiente para encontrar os rasgos e laivos desta tendência.
jocas