quinta-feira, julho 05, 2007

Jean Cocteau


Jean Cocteau, nascido a 5 de Julho de 1889, perto de Paris, foi um artista francês de múltiplos talentos, que se encontra entre os que mais marcaram a sua época.

Para além de poeta, foi romancista, dramaturgo, pintor, cenógrafo, escultor, realizador e actor.

Tendo publicado o seu primeiro livro de poesia aos 19 anos, aos 20 ingressou no círculos do ballet e do teatro, onde foi introduzido pelo amigo Serguei Diaghilev. Da sua colaboração nasceu Parade, espectáculo de ballet produzido em 1917 por Diaghilev, com música de Erik Satie e decoração de Pablo Picasso, com quem viria a trabalhar múltiplas vezes.

Em 1918 encontra o poeta Raymond Radiguet, do qual foi íntimo, falando-se mesmo de uma relação amorosa, embora não exista qualquer prova disso. A morte de Radiguet,em 1923,deixou-o em profundo desespero, tendo-se entregue ao ópio, do qual nunca se viria a libertar, apesar se sucessivas curas de desintoxicação.

Nos anos vinte associa-se a Marcel Proust, André Gide e Maurice Barrès, tendo sido amigo da maior parte da comunidade artística europeia da altura.

A sua filmografia (O sangue de um poeta, A bela e o monstro, A águia de duas cabeças e Testamento de Orfeu, entre outros), a maior parte escrita e dirigida por si, foi particularmente importante por ter introduzido o surrealismo no cinema influenciando, de certo modo, o género que ficou conhecido como Nouvelle Vague. De A bela e o monstro conheceu Jean Marais, que viria a ser o seu parceiro amoroso mais duradouro.

Grande amigo de Edith Piaf, escreveu, em 1940, uma peça de teatro propositadamente para ela, Le Bel Indifférent, que foi um enorme sucesso. A ua ligação a Piaf era tal que a notícia da sua morte o deixou com uma crise de sufoco, vindo também ele a morrer horas mais tarde, de ataque cardíaco.

Plain-Chant

Je n'aime pas dormir quand ta figure habite,
La nuit, contre mon cou ;
Car je pense à la mort laquelle vient trop vite,
Nous endormir beaucoup.

Je mourrai, tu vivras et c'est ce qui m'éveille!
Est-il une autre peur?
Un jour ne plus entendre auprès de mon oreille
Ton haleine et ton coeur.

Quoi, ce timide oiseau replié par le songe
Déserterait son nid !
Son nid d'où notre corps à deux têtes s'allonge
Par quatre pieds fini.

Puisse durer toujours une si grande joie
Qui cesse le matin,
Et dont l'ange chargé de construire ma voie
Allège mon destin.

Léger, je suis léger sous cette tête lourde
Qui semble de mon bloc,
Et reste en mon abri, muette, aveugle, sourde,
Malgré le chant du coq.

Cette tête coupée, allée en d'autres mondes,
Où règne une autre loi,
Plongeant dans le sommeil des racines profondes,
Loin de moi, près de moi.

Ah ! je voudrais, gardant ton profil sur ma gorge,
Par ta bouche qui dort
Entendre de tes seins la délicate forge
Souffler jusqu'à ma mort.

Jean Cocteau*

*Excerto de “Plain-Chant" – Poésie/Gallimard

(Imagem: retrato de Jeande Cocteau por Amedeo Modigliani)

3 comentários:

zetrolha disse...

Eu vi logo que o facto desse Cocteau ser um rabichola tinha dedo do Proust,que altura era a bicha mais tola dos pensadores...Então eles eram amigos!

lino disse...

E de que maneira. O Jean parece que teve muitos amantes (eles e elas).

Teresa disse...

A boçalidade do primeiro comentário fez-me ficar logo de cabelos em pé, depois pensei filosoficamente que talvez a pessoa tivesse pretensões a dizer uma chalaça à altura do nome.

Seja como for, é a primeira vez que aqui aterro, vinda da Diabba. E porque vim eu aqui? Porque em duas dezenas de comentários foste (a blogosfera generaliza o uso do tom, por mais desconfortável que ele me seja na maior parte das vezes) que escreveu correctamente Antárctida: com c.

Ainda bem que vim. Dei logo com o Poema 20, de significado imenso para mim. Com versos de Dylan no cabeçalho. Com o poema do Sound of Silence num post antigo... e ainda não li quase nada.

Sobre Cocteau (por acaso reli há cerca de um mês o La Voix Humaine, até o referi muito de passagem na minha Gota, a propósito de livros), um dado engraçado, que não sei se conheces: o famoso anel Trinity da Cartier (as três alianças entrelaçadas, em ouro branco, amarelo e rosa) foi desenhado a seu pedido e por ideia sua por Louis Cartier.