Canto
A beleza não
aprende a ser bela
e vive de
ignorar
que o tempo
a espreita sem a ver.
Antigamente
nossos pais nos levavam para ver no campo
a madureza
da fruta.
E no seixo
que jogávamos no meio do rio,
cristal de
impiedade, se espelhava a vida.
A beleza
nada aprende
e ser é o
seu segredo
- se você
acender a lâmpada da sala,
até a
varanda ficará clareada.
A beleza não
aprende a morrer.
Não nos
comunicamos com os corpos,
nossa parada
é jogada com as almas.
As cortinas
esvoaçam, nutrindo-se de noroeste
e as
formigas preferem jantar os mortos.
A beleza
quer sempre ficar acordada.
Sempre
evitamos o conforto dos abismos.
Por isso são
brancas as mortalhas
com que nos
cobrimos na hora de dormir.
A beleza não
concorda em morrer
e morre
como os
antigos deuses, Ágata, que exaltaram a vida,
como os
modernos deuses que insistem em apregoar a conveniência da morte.
(poeta
alagoano nascido faz hoje 91 anos)
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