Do Medo
É de ti que
eu sou irmã
por ti fui
trocada em criança
quando as
estrelas semearam a noite
(Ficávamos
chorando de medo
se o laço
branco da trança não desse
para a
escuridão toda do quarto)
Tenho os
silêncios que me emprestaste
e na cidade
que levantámos há pouco
(não
destruiremos nunca)
habitam os
pais
com os não
irmãos mortos à nascença
que o eco de
um flauta eternizou
no cais dos
barcos pequenos de papel
somos irmãos
de ninguém
ancorámos
com amarras de dúvida
é nosso
irmão o medo do poente
a porta azul
da morte
Em redor em
redor de nós
a solidão
voou borboleta negra de metal
caiu
enforcado público na gravata verde
(a mesma
solidão que cega
os arcos
concêntricos das pupilas)
desde a rua
ao bolor dos corpos poetas
da porta
esquecida sem número
à mulher
vendida aos ventos da noite
sem
nevoeiros asfixiamos nítidos
nos passeios
nos fatos nas cadeiras
nas cúpulas
nos clarins
e sentes
contigo os corpos das mulheres
de bruços
sobre o dia
renascidos
maduros os limites da carne
Há nebulosas
de anos sem sentido
que vimos
aprendendo o amor
há um
embrião de veia
há uma veia
atávica vermelha
nos mil
séculos anteriores ao homem
Quando nos
será possível um suicídio exacto
em casas
impossíveis
em ondas
impossíveis
em
(integralmente areia) desertos impossíveis?
Nasceu o sol
na erva a erva nos degraus
os degraus
desceram ao horizonte
(poetisa
lisboeta falecida faz hoje 26 anos)
Sem comentários:
Enviar um comentário