terça-feira, fevereiro 10, 2009

Obscurantismo e (falta de) inteligência Diz-se que Bento XVI é um homem muito inteligente, mas não parece, tal o rol de decisões altamente questionáveis que tem tomado ao longo do seu ainda curto papado. Agora foi a vez de abrir as portas a uns trogloditas que parecem viver no século XIX e de promover ao episcopado um austríaco de uma indigência mental de meter medo ao susto. Quanto aos primeiros, excluídos da Igreja em 1988 por terem sido ilegitimamente sagrados bispos pelo ultra-reaccionário arcebispo francês Marcel Lefebvre, criador e mentor da FSSPX, não é a negação, por parte de um deles, da existência de câmaras de gás nos campos de concentração nazis, aquilo que mais me preocupa. Negar a existência do holocausto é revelador de uma indigência moral esdrúxula e uma enorme estupidez, mas a estupidez ainda não paga impostos. E não é menos cretino punir como crime a negação do holocausto, como fazem alguns países europeus. Por mim, não sei se foram seis milhões de judeus (ou mais ou menos umas centenas de milhares). Foram vários milhões, dizimados nas câmaras de gás, assassinados a tiro, enforcados ou simplesmente deixados morrer de fome ou doença. Que foram acompanhados na sua sorte por vários outros milhões (fala-se em 5 milhões, que são normalmente esquecidos) de ciganos, comunistas, homossexuais, deficientes, etc, tudo pelo simples facto de não pertencerem à raça perfeita idealizada pelos nazis. O que me preocupa é que o mesmo Grande Inquisidor que silenciou e continua a silenciar centenas de teólogos que lutam por uma Igreja mais aberta à sociedade e irmanada com os mais desfavorecidos decida abrir as portas a indivíduos que não reconhecem a validade do Concílio Vaticano II, não admitem a liberdade religiosa, tratam com desprezo os crentes de outras confissões (sejam cristãos, judeus ou muçulmanos) e os não crentes, consideram que a liturgia deve ser sempre celebrada em latim e acham que as mulheres não devem usar calças nem frequentar as universidades. Basta dar uma espreitadela aos vários sítios da tal Fraternidade ou passar os olhos por algumas das cartas de Richard Williamson. Para cúmulo, dizem que Bento XVI não estava a par do negacionismo de Williamson. Como diz que disse? Então um papa que lança um canal próprio no YouTube não tem um gabinete de imprensa que o mantenha informado do que se vai passando? Ou será que o seu magistério pastoral se situa ao nível da participação de Dias Loureiro na administração do BPN? Como uma desgraça nunca vem só, poucos dias depois um padre austríaco, Gerhard Maria Wagner de seu nome, foi nomeado bispo auxiliar de Linz. Pois este cavalheiro tem uma noção muito peculiar de algumas realidades. Em 2001 tinha condenado os livros do Harry Potter, de JK Rowlings, por “espalharem o satanismo”. E em 2005 afirmou que a destruição de Nova Orleãs pelo furacão Katrina era uma “punição divina” pela atitude libertina da cidade relativamente à promiscuidade sexual e à homossexualidade. “Não é, seguramente, por mero acidente que as cinco clínicas de Nova Orleãs que praticavam o aborto, assim como os clubes nocturnos, foram destruídos”, escreveu; e acrescentou: “não foi apenas uma velha cidade que ficou submersa, mas a cidade dos sonhos das pessoas, com os melhores bordéis e as mais bonitas prostitutas”. Palavras de que quem, certamente, sabe daquilo que fala!

2 comentários:

maria disse...

é isso mesmo, lino.

beijos

cristinasiqueira disse...

Oi Lino,

O som do silêncio é grito.
Gosto da maneira crítica com que vc coloca os fatos.
Até mais ,
Cris
Ps-Sua opinião da última postagem do blog www.euamotrancoso.blogspot.com
será muito bem vinda.