terça-feira, fevereiro 03, 2009

Idiotice vergonhosa Os Estados Unidos ficaram em polvorosa quando um relatório do Auditor de Contas do Estado de Nova Iorque revelou que os executivos de Wall Street, responsáveis pelo caos em que se encontra a economia mundial e beneficiários de centenas de milhares de milhões de dólares do dinheiro dos contribuintes, tinham oferecido a si mesmos quase 20 mil milhões de dólares em bónus. Desde programas de televisão a colunas nos jornais, passando pela venda de camisolas com a frase “eu odeio Wall Street”, os clamores da revolta são mais do que muitos. “Isso é o cúmulo da irresponsabilidade”, disse o Presidente Obama. “É vergonhoso. Parte daquilo de que necessitamos é que as pessoas de Wall Street que estão a pedir ajuda mostrem alguma contenção, mostrem alguma disciplina e mostrem algum sentido de responsabilidade”. “Tempos virão em que eles obterão ganhos e tempos virão para eles terem bónus. Mas, agora, não é esse tempo. E esta é a mensagem que tenho a intenção de lhes enviar directamente, e espero que o Secretário Geithner a envie a eles. Por sua vez, a senadora democrata do Missouri, Claire McCaskill, fez um diagnóstico ainda mais cru dos “Senhores do Universo” sem vergonha e sem senso: “Essas pessoas são uns idiotas” O caso mais aberrante é o da Merril Lynch que, numa manobra pouco usual, decidiu pagar, ainda em Dezembro, mais de 4 mil milhões de dólares em bónus, num trimestre em que teve perdas de 21 mil milhões. Jon Stewart, no “The Daily Show”, passou um vídeo do CEO da Merril Lynch a defender os bónus como forma de manter “as melhores pessoas”. No fim, Jon Stewart gritou: “vocês não tem ‘melhores pessoas’! Vocês perderam 27 mil milhões de dólares. Vocês vivem num Mundo à Parte”? Não se infira disto que eu sou contra os bónus de desempenho, pois não sou. Mas tudo tem um limite e muito mais quando não há lucros. Na minha opinião, os bónus exagerados são um erro crasso, porque levam à assumpção temerária de riscos muito elevados. E o erro passa a ser indesculpável quando são atribuídos em função dos objectivos de curto prazo, com menosprezo dos objectivos de médio/longo prazo, pois os executivos dedicam-se a “comprar crescimento” em vez de se concentrarem em “construir crescimento”. Não será por acaso que, cá no burgo, o grupo financeiro (grandinho) que mais tem sofrido com a crise é aquele que, até há poucos anos, reservava 10% dos resultados para bónus ao conselho de administração.