segunda-feira, setembro 22, 2008

Vida madrasta A palavra "madrasta" vem do latim vulgar matrasta. Tem a ver com "mãe" (mater), mas no sentido de "mulher do pai", mãe que não é mãe, mulher que se tornou mãe "postiça" na ausência da mãe verdadeira. A madrasta existia quando a mãe da criança falecia. A madrasta surgia na vida de um órfão como segunda mãe. O mesmo com relação ao padrasto. Hoje, dado o número de separações conjugais, existem muitos órfãos com mães e pais vivos. A nova esposa é chamada de madrasta de maneira pouco apropriada. Outro expediente é chamar a madrasta de "tia", o padrasto de "tio", o que nada ajuda. Antigos provérbios pintam a imagem perversa: "Madrasta e enteada sempre andam em batalha", "madrasta, diabo arrasta", "madrasta, o nome lhe basta". Quando alguém quer se queixar da vida diz que a vida lhe foi madrasta. E existirá também a morte madrasta? No caso de padrasto, há um provérbio interessante: "Mais vale pai ruim do que bom padrasto". A noção é tão forte que virou adjetivo masculino, ampliando a idéia original: "mercado madrasto", "mundo madrasto", "futuro madrasto". Nas histórias que contamos aos nossos filhos, a madrasta é malvada, irascível, vingativa. A mulher má por definição, a gargalhada sádica ressoando nos ouvidos, a vontade de perseguir. As madrastas cruéis fazem dos contos infantis verdadeiras histórias de terror. A madrasta da Branca de Neve inveja a beleza da menina. Decide assassiná-la. A megera, para cúmulo do azar, é feiticeira e não tem um pingo de compaixão. Quando manda o caçador matar a menina no meio da floresta, exige que lhe traga como prova do trabalho realizado os pulmões e o fígado da vítima. Sua idéia é cozinhá-los e comê-los! A madrasta da Cinderela explora a força de trabalho da pobre enteada e não lhe permite conhecer novas oportunidades. Para completar o quadro, a madrasta tem duas filhas que humilham sistematicamente a Gata Borralheira. É preciso que outra figura, a madrinha, venha em auxílio com os poderes mágicos do amor. Madrinha também substitui a mãe ausente, mas é substituta do bem. Seria grande injustiça apresentar a madrasta como vilã de todas as histórias. Não é certamente um papel fácil. Requer generosidade. Generosidade significa gerar. Gerar um vínculo que não existia antes. Criar com a criança, com o jovem, com a jovem, uma relação de respeito... Para começar. Gabriel Perissé* *professor e escritor Publicado no jornal digital Correio da Cidadania

2 comentários:

f@ disse...

Olá Lino,
Pois é mtas vezes é pela cinderela que pensamos na madrasta... mas nem sempre é assim... Algumas são até mto boas... madrastra é ainda mais forte e marcante que padrasto... não sei ... a palavra ffoi mesmo ficando a alastrando ...
beijinhos das nuvens

jrd disse...

Pois é! Mãe há só uma e madrastas pode haver várias, depende do pai...