sexta-feira, setembro 05, 2008

A fome A fome age não apenas sobre os corpos das vítimas da seca, consumindo sua carne, corroendo seus órgãos e abrindo feridas em sua pele, mas também age sobre seu espírito, sobre sua estrutura mental, sobre sua conduta moral. Nenhuma calamidade pode desagregar a personalidade humana tão profundamente e num sentido tão nocivo quanto a fome, quando atinge os limites da verdadeira inanição. Excitados pela imperiosa necessidade de se alimentar, os instintos primários são despertados e o homem, como qualquer outro animal faminto, demonstra uma conduta mental que pode parecer das mais desconcertantes. Josué Apolônio de Castro, nascido no Recife há exactamente 100 anos, foi um influente médico, professor, nutricionista, antropólogo, geógrafo, sociólogo, escritor, político, intelectual, humanista e activista brasileiro, que se notabilizou, sobretudo, pela denúncia do fenómeno da fome. A passagem acima reproduzida faz parte do seu trabalho FOME COMO FORÇA SOCIAL: FOME E PAZ, publicado na revista francesa Pourquoi, número especial de Março de 1967, mas podia ter sido escrito em 2008, tal a sua aderência à realidade actual, já que todas as causas da fome denunciadas pelo grande humanista não só se mantêm como se agravaram. No dia do seu centenário, vale a pena visitar o sítio que lhe é dedicado.

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