segunda-feira, setembro 08, 2008

SER E NÃO SER Ser vaga nuvem ou pássaro liberto ter espumas asas ou condensações de infinito possuir todas as praias todos os espaços poder voar bem alto poder erguer os braços poder erguer a voz poder lançar um grito ou fosse apenas canto prece ou gargalhada amar só por amor só por amar mais nada ser nauta vagabundo menestrel cigano ou mesmo - que não mais - um cavaleiro andante poder viver um ano inteiro em cada instante e um século de vida viver em cada ano Não ser jamais algoz de um sonho ou de um anseio fazer da vida um fim e não somente um meio de alcançar um fim por todo meio incerto não ser jamais estéril e árido deserto onde não floresce sequer a flor selvagem não ser árvore seca despida de folhagem por onde o vento passe a murmurar baixinho onde a ave pouse e possa ter um ninho de onde brote o fruto rubro sumarento Não ser jamais a pedra fria do convento que mesmo ouvindo preces permanece fria não ser jamais a rocha abrupta sem harmonia não ser jamais o ódio a inveja o desengano poder ouvir no mar uma eterna sinfonia e no soprar dos ventos escutar um hino ser um pouco da terra para ser divino e ser dos céus um pouco para ser humano. Augusto Severo Netto* *poeta brasileiro

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