quinta-feira, agosto 07, 2008

O quereres Onde queres revólver, sou coqueiro E onde queres dinheiro, sou paixão Onde queres descanso, sou desejo E onde sou só desejo, queres não E onde não queres nada, nada falta E onde voas bem alta, eu sou o chão E onde pisas o chão, minha alma salta E ganha liberdade na amplidão Onde queres família, sou maluco E onde queres romântico, burguês Onde queres Leblon, sou Pernambuco E onde queres eunuco, garanhão Onde queres o sim e o não, talvez E onde vês, eu não vislumbro razão Onde o queres o lobo, eu sou o irmão E onde queres cowboy, eu sou chinês Ah! bruta flor do querer Ah! bruta flor, bruta flor Onde queres o ato, eu sou o espírito E onde queres ternura, eu sou tesão Onde queres o livre, decassílabo E onde buscas o anjo, sou mulher Onde queres prazer, sou o que dói E onde queres tortura, mansidão Onde queres um lar, revolução E onde queres bandido, sou herói Eu queria querer-te amar o amor Construir-nos dulcíssima prisão Encontrar a mais justa adequação Tudo métrica e rima e nunca dor Mas a vida é real e de viés E vê só que cilada o amor me armou Eu te quero (e não queres) como sou Não te quero (e não queres) como és Ah! bruta flor do querer Ah! bruta flor, bruta flor Onde queres comício, flipper-vídeo E onde queres romance, rock’n roll Onde queres a lua, eu sou o sol E onde a pura natura, o inseticídio Onde queres mistério, eu sou a luz E onde queres um canto, o mundo inteiro Onde queres quaresma, fevereiro E onde queres coqueiro, eu sou obus O quereres e o estares sempre a fim Do que em mim é de mim tão desigual Faz-me querer-te bem, querer-te mal Bem a ti, mal ao quereres assim Infinitivamente pessoal E eu querendo querer-te sem ter fim E, querendo-te, aprender o total Do querer que há e do que não há em mim Caetano Veloso* *no dia do seu 66º aniversário

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