terça-feira, novembro 27, 2007

Uísque e mulher ranzinza Eu tinha doze garrafas de uísque na minha adega e minha mulher me disse para despejar todas na pia, porque se não... - Assim seja! Seja feita a vossa vontade, disse eu, humildemente. E comecei a desempenhar, com religiosa obediência, a minha ingrata tarefa. Tirei a rolha da primeira garrafa e despejei o seu conteúdo na pia, com exceção de um copo, que bebi. Extraí a rolha da segunda garrafa e procedi da mesma maneira, com exceção de um copo, que virei. Arranquei a rolha da terceira garrafa e despejei o uísque na pia, com exceção de um copo, que empinei. Puxei a pia da quarta rolha e despejei o copo na garrafa, que bebi. Apanhei a quinta rolha da pia, despejei o copo no resto e bebi a garrafa, por exceção. Agarrei o copo da sexta pia, puxei o uísque e bebi a garrafa, com exceção da rolha. Tirei a rolha seguinte, despejei a pia dentro da garrafa, arrolhei o copo e bebi por exceção. Quando esvaziei todas as garrafas, menos duas, que escondi atrás do banheiro, para lavar a boca amanhã cedo, resolvi conferir o serviço que tinha feito, de acordo com as ordens da minha mulher, a quem não gosto de contrariar, pelo mau gênio que tem. Segurei então a casa com uma mão e com a outra contei direitinho as garrafas, rolhas, copos e pias, que eram exatamente trinta e nove. Quando a casa passou mais uma vez pela minha frente, aproveitei para recontar tudo e deu noventa e três, o que confere, já que todas as coisas no momento estão ao contrário. Para maior segurança, vou conferir tudo mais uma vez, contando todas as pias, rolhas, banheiros, copos, casas e garrafas, menos aquelas duas que escondi e acho que não vão chegar até amanhã, porque estou com uma sede louca ... Barão de Itararé Apparício Torelli, Barão de Itararé, o Brando, (1895/1971), "campeão olímpico da paz", "marechal-almirante e brigadeiro do ar condicionado", "cantor lírico", "andarilho da liberdade", "cientista emérito", "político inquieto", "artista matemático, diplomata, poeta, pintor, romancista e bookmaker", como se definia, era gaúcho e é um dos maiores humoristas de todos os tempos. Dele disse Jorge Amado: "Mais que um pseudônimo, o Barão de Itararé foi um personagem vivo e atuante, uma espécie de Dom Quixote nacional, malandro, generoso, e gozador, a lutar contra as mazelas e os malfeitos". O Barão de Itararé deixou o nosso convívio em 27 de Novembro de 1971

2 comentários:

Anónimo disse...

Este barão, republicano dos setes costados, também disse que: "O fígado faz muito mal à bebida."
Abraço

lino disse...

Este barão, que não era barão, teve tiradas do arco da velha.
Abraço