terça-feira, novembro 06, 2007

Poesia Se todo o ser ao vento abandonamos E sem medo nem dó nos destruímos, Se morremos em tudo o que sentimos E podemos cantar, é porque estamos Nus em sangue, embalando a própria dor Em frente às madrugadas do amor. Quando a manhã brilhar refloriremos E a alma possuirá esse esplendor Prometido nas formas que perdemos. Aqui, deposta enfim a minha imagem, Tudo o que é jogo e tudo o que é passagem. No interior das coisas canto nua. Aqui livre sou eu - eco da lua E dos jardins, os gestos recebidos E o tumulto dos gestos pressentidos Aqui sou eu em tudo quanto amei. Não pelo meu ser que só atravessei, Não pelo meu rumor que só perdi, Não pelos incertos actos que vivi, Mas por tudo de quanto ressoei E em cujo amor de amor me eternizei. Sophia de Mello Breyner Andresen*
*no 88º aniversário do seu nascimento

Sem comentários: