sábado, novembro 03, 2007

Não me deixes! Debruçada nas águas dum regato A flor dizia em vão À corrente, onde bela se mirava: "Ai, não me deixes, não! "Comigo fica ou leva-me contigo "Dos mares à amplidão; "Límpido ou turvo, te amarei constante; "Mas não me deixes, não!" E a corrente passava; novas águas Após as outras vão; E a flor sempre a dizer curva na fonte: "Ai, não me deixes, não!" E das águas que fogem incessantes À eterna sucessão Dizia sempre a flor, e sempre embalde: "Ai, não me deixes, não!" Por fim desfalecida e a cor murchada, Quase a lamber o chão, Buscava inda a corrente por dizer-lhe Que a não deixasse, não. A corrente impiedosa a flor enleia, Leva-a do seu torrão; A afundar-se dizia a pobrezinha: "Não me deixaste, não!" Gonçalves Dias* *poeta brasileiro

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