quinta-feira, outubro 18, 2007

A cimeira A esta hora, entre um croquete e uma laranjada, um pastel de bacalhau e uma coca cola ou caviar e um champanhe francês, tudo pago pelos impostos do Zé, os chefes de Estado ou de Governo da União Europeia devem estar a tagarelar sobre trivialidades (os austríacos que têm medo de que os alemães lhes roubem os estudantes de medicina, os polacos que querem não se sabe bem o quê, os italianos que não querem perder deputados, os búlgaros que querem chamar “evro” ao euro) enquanto se preparam para hipotecar a soberania de cada um dos países. Em lugar de darem um novo fôlego à Agenda de Lisboa, ambiciosa velhinha de sete anos que pretendia transformar, até 2010, a União Europeia na região económica mais empreendedora, com melhor educação e energeticamente mais eficiente do mundo, preparam-se para aprovar o Tratado de Lisboa, que ligará para sempre os destinos de Estados até agora soberanos à eurocracia reinante. A União Europeia teve origem numa comunidade de interesses económicos (daí se ter chamado Comunidade Económica Europeia) e devia ser nisso que os esforços dos nossos dirigentes se deviam focar: enfrentar a crescente globalização e tornar a Europa mais competitiva e capaz de fazer face ao poderio dos Estados Unidos e à crescente influência dos chamados BRIC (para os distraídos, Brasil, Rússia, Índia e China). Mas não. Até agora, os assuntos internos e judiciais eram questões exclusivas de cada Estado soberano, que definia o que era crime ou não, como lidar com os crimes do ponto de vista policial e qual a sentença mais adequada para cada um. Agora, vamos ter uma espécie de jantar de amigos com refeição de preço fixo previamente estipulada, com vinho da casa branco ou tinto, em que nem sequer os “doentes” podem optar por algo diferente. Há seis anos foi aprovada a Declaração de Laeken, em que os estados membros se comprometiam com mais transparência das instituições, mais democracia e mais subsidiariedade (ou seja, mais poder para cada estado). Agora, somos todos corridos a decisões do Tribunal Europeu de Justiça, que se propõe ficar com mais poderes do que o Supremo Tribunal dos Estados Unidos, do qual foi retirado a papel químico. Se a nossa justiça, que tem todas as condições de proximidade, é o que é, com um peso para os poderosos e peso nenhum para o Zé povinho, o que se vislumbra não augura nada de bom. Para já não falar de diplomacia, em que o Sr. de Bruxelas fará os dislates que entender e o nosso MNE, enquanto o houver, só poderá acenar como a cabeça, para cima e para baixo, como os burros. E vieram os meus avoengos lá do Minho, armados de espadas e lanças, para correrem com a moirama e com os castelhanos. O País com as fronteiras mais antigas do mundo pesa menos do que o Kosovo, a quem reconhecem o direito à independência os mesmos que a negam ao País Basco ou à Catalunha, à Irlanda do Norte ou à Córsega e, agora, a todos os pequenos Estados da UE. Ao que isto chegou. Depois admirem-se de que o fosso entre o povo e as auto-proclamadas elites seja cada vez maior, quer a nível da política de cada estado, que contará cada vez menos, quer a nível da política da União, que se burocratizará cada vez mais.

3 comentários:

GMaciel disse...

Lino, já há algum tempo que se vislumbrava algo deste género, depois dos referendos falhados e de tanto se propagandear os euro-cépticos - a melhor forma de se obter o que se quer, é ensombrar a manada com fantasmas imcompreensíveis para esta. (aprenderam com os norte-americanos)
:(
jocas e folgo em saber que as coisas se vão compondo com a companheira.
;)

lino disse...

Obrigado, Graça.
Eu não sou propriamente um eurocéptico, mas há coisas que nem com caviar (do bom, que já cá passou pelos estreito duas vezes)consigo engolir.
Jocas grandes.

Anónimo disse...

Pois, subscrevo a opinião....
Mas confesso que sou um pouco como a avestruz, prefiro enterrar a cabeça na areia. A proposito... li um estudo em que avestruzes foram seguidas durante anos e nunca se viu uma a fazer o dito acto...

Bom dia :)