terça-feira, janeiro 02, 2007

Terrorismo? Que Terrorismo? Não costumo ouvir as mensagens de Ano Novo. Por isso fiquei incrédulo quando ouvi que Bento XVI teria comparado o aborto, a investigação em células estaminais embrionárias e a eutanásia ao terrorismo. Seria mesmo assim? Decidi, pois, consultar a fonte. E lá está, no ponto 5 da Mensagem para a Celebração do Dia Mundial da Paz : “Quanto ao direito à vida, cabe denunciar o destroço de que é objecto na nossa sociedade: junto às vítimas dos conflitos armados, do terrorismo e das mais diversas formas de violência, temos as mortes silenciosas provocadas pela fome, pelo aborto, pelas pesquisas sobre os embriões e pela eutanásia. Como não ver nisto tudo um atentado à paz?” Ainda atordoado, verifiquei a versão inglesa, não fosse haver algum erro de tradução. Mas não, pois também lá consta: “As far as the right to life is concerned, we must denounce its widespread violation in our society: alongside the victims of armed conflicts, terrorism and the different forms of violence, there are the silent deaths caused by hunger, abortion, experimentation on human embryos and euthanasia. How can we fail to see in all this an attack on peace?” Nas versões francesa, espanhola e italiana (que presumo ter sido a original), o significado é o mesmo, mais ponto menos vírgula. Então uma mulher que decide abortar e os profissionais de saúde que lhe dão apoio são terroristas ou equivalentes? E os cientistas que fazem investigação em embriões, também? Não posso aceitar tal qualificativo. Tenho lá em casa uma mestranda em biologia molecular e genética que, se tiver sorte, tem grandes possibilidade de vir a fazer investigação nessa área. E nunca será uma terrorista por isso. Nem para mim nem para qualquer pessoa de boa fé, pois: Terrorismo é negar o funeral religioso a Piergiorgio Welbi, que desejou morrer, e concedê-lo a um carniceiro como o Pinochet; Terrorismo é condenar à morte milhões de seres em África, ao considerar pecaminoso o uso do preservativo, ao enganar o povo ignorante dizendo que não protege do vírus da Sida e ao patrocinar a destruição de centenas de milhares de unidades para lá enviadas pelos países desenvolvidos; Terrorismo é proibir a interrupção voluntária da gravidez quanto o embrião tem anomalias graves e exigir, como se faz no cânone 241 § 1, que apenas sejam admitidos no seminário maior aqueles que, atendendo (...) à sua saúde física e ao seu equilíbrio psíquico, (...), sejam considerados capazes de dedicar-se aos sagrados ministérios de maneira perpétua; Terrorismo é querer intervir na relação íntima do casal; Terrorismo é obrigar ao nascimento de filhos indesejados que irão, muitos deles, engrossar o exército dos mal tratados e dos miseráveis; Terrorismo é fazer das mulheres cristãos de segunda, ao impedir o seu acesso ao sacerdócio; Terrorismo é negar o acesso aos sacramentos a um casal cujo casamento não resultou e resolveu separar-se e refazer a vida com outros companheiros; Terrorismo é estigmatizar os crentes homossexuais; Terrorismo é pôr entraves ao desenvolvimento da ciência e à cura de incontáveis doenças, ao não admitir a investigação em células estaminais embrionárias. Terrorismo é impedir um casal de ser feliz, ao reprovar o recurso à Procriação Medicamente Assistida; Terrorismo, o mais hediondo terrorismo, é dar cobertura a padres pedófilos, subtraindo-os à justiça civil e mudando-os de paróquia. É tempo de mais crentes dizerem basta. Afinal, a igreja somos nós.

13 comentários:

Anónimo disse...

vamos ver se é desta

Anónimo disse...

yaaaauuuu... Estava mesmo a fazer disparate.

Mas repito agora o comentario:

Completamente de acordo com o post, os verdadeiros terroristas são os senhores da ICAR e quejandos.

lino disse...

Não todos, Ana, não todos.
Eu conheço padres que não dizem mais porque não podem. Ou tentam levar as coisas de mansinho ou têm de sair e as coisas ficam piores. Até acredito que também haja bispos, como os houve e haverá na maçonaria (maçonaria no sentido nobre do termo, no sentido de liberdade, igualdade e fraternidade), mas têm de ser clandestinos.

PS: Está a ver como consegui?

cãorafeiro disse...

caro lino:

concordo com o choque que sentiu relativamente às inqualificáveis declarações do papa.

mas acho que fez mal em usar a mesma linha de argumentação dele.

não devemos banalizar a palavra terrorismo.

ao fazê-lo, estamos a contribuir para consolidar a cultura do medo que quem tem poder nos quer impor, a nós, simples cidadãos.

quanto à ICAR, sendo eu crente, já não tenho a menor esperança na sua regeneração. há ali um projecto totalitário que se alimenta do crédito que as pessoas ainda continuam a dar à igreja. nada do que eles dizem faz sentido, apenas existe ali cupidez pelo poder.

um dia visitei os museus do vaticano, onde magníficas estátuas romanas estão empilhadas, com os pénis decepados e cobertos por parras. obras que não deveriam pertencer à ICAr, quem nem sequer existia quando foram esculpidas.

a cada 10metros, havia uma banca de venda de souvenires, rosários, postais do papa... um nojo. percebi então como foi que jesus se sentiu quando visitou o templo. nada a fazer, excepto virar as costas a essa corja.

claro que há padres, freiras, e leigos que são excelentes pessoas. mas sem querer ou sem saber, estão a alimentar uma mentira.

lino disse...

Cara cãorafeiro:
Talvez a algumas das situações não seja aplicável adequadamente a palavra "terrorismo", mas a outras julgo que o é. Como o caso dos autos de fé com milhares de preservativos, em África. Quantas mortes e quanto sofrimento não causam essas situações? Eu sou católico, interventivo, e na minha paróquia não vejo "terrorismo" espiritual. Mas conheço muitos lados em que ele existe. E as notícias que tenho de outros lugares são, às vezes, de causar arrepios.
De qualquer forma, obrigado pelo alerta. Vou procurar ter mais cuidado para não utilizar terminologia que possa ser contraproducente.

cãorafeiro disse...

é isso, lino... é uma questão de evitar banalisar a palavra. há quem ganhe com essa banalização, e garanto-lhe que não sou eu nem você.

obviamente que o comportamento da ICAr em relação à SIDA não só é criminoso como ainda por cima assenta em mentiras. vi uma vez um documentário da BBC, muito conhecido. entrevistavam padres e freiras, que diziam às pessoas que os preservativos deixavam passar o virus, etc, etc. ora, mentir é pecado, logo trata-se de um crime não só perante a justiça humana, mas também a divina e sobretudo uma negação dos próprios fundamentos do cristianismo.

eu já fui católica, e assim me mantive porque o facto de ter conhecido pessoas do clero que não eram nem fanáticos nem tiranos me induziu em erro, levando-me a acreditar que a moderação era a regra e o fundamentalismo a excepção.

a partir do momento em que constatei que não era assim, percebi que estava a mais, ou melhor, que já não era católica de facto há muito tempo, como aquelas pessoas que se separam mas hesitam em divorciar-se, não querendo ver que o casamento talvez até nunca tenha existido.

tal não significa que não tenha o maior respeito por algumas das pessoas que são católicas. mas tê-lo-ia igualmente se não fossem.

um dos problemas do catolicismo, independentemente de quem o controla, é que induz as pessoas a terem uma relação interesseira com Deus. Comportam-se na expectativa do prémio ou consoante o receio da punição, e não pelo mérito intrínseco do seu comportamento. da mesma forma, incentiva a hipocrisia e faz a apologia do sofrimento, mesmo daquele que pode ser evitado.

como se justifica, por exemplo, que a Igreja não contrarie situações como eu já vi em Fátima, de pessoas a arrastarem-se de joelhos, como se justifica que não contrarie o negócio das promessas, aliás contrárias aos ensinamentos de cristo?

claro que estes fenómenos que identifico na ICAR não são exclusivo seu, mas o seu poder no Mundo é completamente desproporcionado. as pessoas dizem-se católicas porque casam na igreja, baptizam os filhos e fazem funerais católicos ou então quando têm uma aflição rezam a nossa senhora. ou seja, é hipócrita as pessoas dizerem-se católicas quando na verdade nem sequer fazem um esforço por estudar os fundamentos da sua religião. simplesmente, essa hipocrisia convém ao vaticano, porque é a fonte do seu poder.

mas não é só o papa nem a hierarquia de topo...esse é o problema.

Anónimo disse...

Ao cuidado de algum ou alguma estudiosa:

O Código do Direito Canonino "afasta" a possibilidade de ingresso nos seminários, qualquer deficiente físico. Uma vez
que pelo CDC nunca poderão ser ordenados sacerdotes.

Para além de já ter lido isto algures, o Virgílio Ferreira ( que foi seminarista ) no sua MANHÃ SUBMERSA, dá como desfecho à obra a mutilação do jovem seminarista, como forma de se ver "livre" do pesadelo.

Quem me pode confirmar?

A ser assim as palavras do "santo padre" ainda soam como "mais" falsas. É que para além de condenarem o aborto, quando há má formação do feto, ainda por cima não os aceitam no seio da Santa Madre Igreja, a não ser para "rezar".

Isto toca-me muito, porque tenho uma pequena deficiência física, que me impediria a ordenação -se "sonha-se" com ela. Sem me quer comparar a quem tem deficência que os afecta gravemente.

A verdade é que nunca vi nenhum sacerdote com alguma deficiência física, tirando o espectáculo da "agonia" do JP2,
....
António

lino disse...

Caro António:
Pode ler o Código do Direito Canónico, especialmente o cânone 241, que é aquele que refiro, em:
http://www.vatican.va/archive/cdc/index_po.htm
Não tem a versão portuguesa mas, entre a inglesa, a francesa e a espanhola (foi a que consultei, por dominar esta língua), alguma lhe há-de ser útil. A verdade é que também nunca vi padres com deficiências graves e, pelos menos nos anos sessenta, não eram admitidos nos seminários alunos com quaisquer deficiências.

Cara cãorafeiro:
Compreendo muito bem a sua posição mas, se todos os que temos uma posição crítica saíssemos, as coisas só piorariam. Mal comparado, é como nos partidos políticos. Só que, aqui, são as consciências que são manipuladas.

cãorafeiro disse...

lino:

imagine que é solteiro e se apaixona por uma mulher divorciada que fora anteriormente casada pela Igreja...

casa-se com ela... mas perante a Santa Madre Igreja, a sua mulher mais não será do que uma adúltera, e o lino será um destruidor de um sagrado sacramento, o casamento.

gostaria que a sua mulher, pelo facto de anteriormente ter sido casada com outro homem, fosse tyratada como uma reles prostituta pela confissão religiosa que o Lino professa?

a alternativa seria então não casar com ela e renunciar à consumação do seu amor por ela, para não pecar, para não atentar contra um Sagrado sacramento...

renunciar à felicidade para não destar um laçoatado por Deus?

por outro lado, se a sua mulher tivesse casado apenas pelo civil, ou por uma outra confissão religiosa, já não haveria problema...

está a ver a hipocrisia?

há padres que recusam o baptismo a filhos de pessoas que não sejam casadas pela Igreja...

imagine que tinha um filho com a mulher amada. naturalmente que, sendo católico, e mesmo aceitando a punição que lhe foi reservada por casar com uma adúltera, a saber, a recusa da comunhão, o Lino quereria baptizar o seu filho...

ia à igreja, falava com o padre, e ele, ao constatar estar perante um pecador, perante um casal que violou o sacramento do sagrado matrimónio, recusa o baptismo ao seu filho?

ainda assim, o Lino permanece católico.

um dia, o seu pai, católico praticante como o Lino, frequentador assíduo da missa dominical, zeloso cumpridor dos seus deveres de católico, caridoso, e atormentado pela consciência de ser pecador, morre.

o lino quer dar-lhe um funeral católico.

por azar, o padre da paróquia do seu pai, que até é amigo da família, está de serviço fora. foi fazer um casamento a uma quinta no alentejo, porque não há dúvida que um casamento católico é muto mais giro, e se for numa capela antiga numa quinta ainda mais.

a diocese manda outro padre.

esse outro padre faz a oração fúnebre como se não estivesse diante dos restos mortais de um homem católico, temente a Deus e necessitado de orações, mas como se diante dele estivesse um presunto de Chaves, um naco de carne destinada a apodrecer... depois vai-se embora sem ao menos dar os pêsames à família.

ainda assim o Lino continuaria a querer pertencer a essa Igreja que tão pouco respeito demonstra pelas pessoas que o Lino ama?

caro Lino, talvez as pessoas da sua paróquia sejam a excepção e não a regra...

da minha parte, lembro-me bem como a consciência de ser pecadora me atormentou durante anos, e atormentou-me porque os meus pais católicos sempre faziam questão de me embrar que as «maldades» que eu fazia às minhas irmãs me havreiam um dia de air em cima. Não diziam por mal, coitados, mas para me proteger de mim mesma, e do inevitável castigo divino. as maldades, note-se derivavam do peso excessivo da responsabilidade de tomar conta de irmãos mais novos.

lembro-me também do sermão da minha professora de religião e moral a falar do sofrimento indizível das crianças que morrem por baptizar e ficam no limbo. a preparar a nossa mente, nossa, de raparigas de 12 ou 13 anos, para não nos esquecermos de baptizar os nossos próprios filhos quando, daí a poucos anos, fossemos mães...

Caro Lino, há um momento em que se torna impossível continuar a ignorar o caracter essencialmente opressivo da religião católica.

claro que eu acho lindas as orações que são francisco de assis escreveu. também acho fantástica a froma como frei bartolomeu de las casas denunciou a forma como os índios eram tratados...

mas isso não chega. e sobretudo não compensa todo o mal que se tem feito em nome de Deus, do Deus católico, e que continua...

Anónimo disse...

Caro Lino:

Muito obrigado pelo seu contributo.

Mas não acha que este assunto mercia ser aprofundado?

Um homem ( ou uma mulher ) sem uma
perna ou atirado para uma cadeira de rodas não podia servir a Igreja?



António

lino disse...

Cara cãorafeiro:
Há coisas que não quero abordar aqui. Por isso, tentei deixar-lhe, no armadilhas, uma mensagem para me contactar por correio electrónico. Fi-lo através do ícone que aparece no fim de cada post, mas não sei se a receberá, pois tive de inventar o seu endereço.

Caro António:
Uma mulher sem uma perna ou numa cadeira de rodas pode servir a igreja mas, como qualquer mulher, não tem acesso ao sacerdócio. Julgo que um homem na mesma situação também não terá, mas não o posso confirmar. Sei de um caso, passado nos anos 60, em que um conhecido meu estava a acabar a teologia e a um ano de ser ordenado. Descobriu-se que tinha sífilis e, embora fosse uma herança do avô, que tinha andado pelo Brasil e contaminara a família todo, foi obrigado a desistir. Tratou-se, curou-se, casou, tornou-se um próspero advogado e teve filhos saudáveis. Mas não serviu para padre.

Eurydice disse...

É por coisas destas que eu não acredito em religiões institucionalizadas: o peso do TEMPORAL, do POLÍTICO, do IMPERIAL, é inevitável!
Tive a mais completa e aprofundada formação católica (sete anos de freiras ligadas aos eruditos jesuítas). Era profundamente sincera na minha fé e na sua manifestação. Até um dia...
Compreendo muito bem a Cão: a minha experiência não foi tão directa, não tive atrocidades dessas na minha vida pessoal ou familiar.
Também compreendo o Lino! :)
E, de certo modo, agradeço-lhe por continuar a lutar e admiro-o pelo seu sentido da Fé. Comprendo a sua noção de religião: ela está para além de haver ou não uma mitificação de Jesus Cristo ou das imperfeições humanas dos ditos representantes de Deus.
É verdade que o mundo seria melhor se a Igreja deixasse de ser tão imperial. Mas... será possível?

Hoje não sou cristã, sequer.

Para mim, a espiritualidade tornou-se um assunto entre mim e o sagrado: assunto em que me compete a mim e só a mim a demanda e a responsabilidade. "condenada a ser livre", se me é permitido o paradoxo!... Talvez seja falta de humildade... :(
Mas para quê alimentar os erros e assumir as culpas daqueles cujo comportamento é totalmente errado à luz dos meus valores?

oakleyses disse...

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