segunda-feira, junho 09, 2014

Todos os Punhais

Todos os punhais que fulgem nos gritos,
Todas as fomes que doem no pão
Todo o suor que luz nas estrelas
Todas as lanças nos dedos da reza,
Todos os soluços para ressuscitar os filhos mortos,
Todos os desejos nos alçapões do frio,
Todas as jóias nos pescoços dos espelhos rachados
Todos os assassinos que andaram ao colo das mães,
Todos os atestados de pobreza com lágrimas de carimbo,
Todos os murmúrios do sol no quarto ao lado à hora da morte…

Tudo, tudo, tudo
Se condensou de repente
Numa nuvem negra de milhões de lágrimas
A humilharem-me de ternura
- eu que quero ser alheio, duro, indiferente…

… Enquanto os outros dançam, cantam, bebem,
vivem, amam, riem, suam
neste pobre planeta
magoado das pedras e dos homens
onde cresceu por acaso o meu coração no musgo
aberto para a consciência absurda
deste remorso sem sentido.


(José Gomes Ferreira nasceu faz hoje 114 anos)

1 comentário:

São disse...

Gosto da poesia de José Gomes Ferreira, que acho ter visto uma vez na Praça Saldanha à saída do Metro.

Seu Jorge era mesmo cantor de rua e este foi o primeiro vídeo que vi dele, onde mais uma vez a caridade cristã da Igreja é mostrada ...


Boa tarde