Cortejo
Fúnebre
Corre-me nas
veias um fogo de abandono...
Tenho uma
auréola de névoa em meu olhar...
Embala o meu
silêncio oco de sono
Uma sombra
consciente de (o) embalar...
Dobre a finados sem sinos
Nos meus ócios peregrinos
Roçam mãos
no meu corpo onde eu as não vejo
Passam asas
no soslaio da minha atenção,
Um invisível
bafo falha um beijo
Perto da
minha face atenta em vão!!!
Lá vai lento e lento o enterro
Do que eu tinha de áureo no erro
Só me resta
o fitar-me no espelho da verdade
E
acompanhar-me com a ilusão de que vivi
Mas uma
raiva súbita me invade:
Não saber eu
quem sou, e o que é aqui!
Nestes pós de fria terra
A minha sombra me enterra.
(Fernando
Pessoa nasceu faz hoje 126 anos)
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