quarta-feira, junho 25, 2014

Arte Poética

Ah, o ofício,
as contorções da espera
entre a noite e a madrugada!
O litúrgico olhar abre cortinas,
o anjo adormeceu,
dança arbitrária
a minha barba de duzentos anos.
Quem poderá restituir-me intacto ao mistério
com o perfume de rosa não tocada?
Quem senão tu,
cântaro e fonte,
abrigo,
terra e pátria onde se esconde
a negra cicatriz que o peito ostenta?
Eis porque espero
(entre a noite e a madrugada)
para que salves
ou lances no infortúnio
o litúrgico olhar que em nova busca
apodrece sob um sol de desespero.


(poeta paraense nascido faz hoje 94 anos)

1 comentário:

jrd disse...

Arte poética que atravessou séculos.
Belo poema.

Abraço