segunda-feira, dezembro 08, 2008

Os Professores Estudei harmonia com o professor Paulo Silva. Ele ainda usava aquela gravata vermelha que dá laço e cai no peito. Ficava tristíssimo quando as composições não obedeciam àquelas regras rígidas. Estudei com Alceu Bochinno, aprendi muito com Radamés Gnattali. Minha intenção era o conserto com s. Começar a consertar as coisas porque está tudo quebrado. Eu sentia uma grande admiração por essas pessoas que faziam música brasileira. Fui à casa do Villa-Lobos. Eu ouvia falar que ele era maluco. Quando escutei o Choro nº 10, eu chorei, mas de felicidade, de alegria, entende? Botava aquilo na vitrola e chorava ali na Rua Nascimento e Silva. O meu contato com esse tipo de música foi um pouco tardio. Quando fui estudar com a Lúcia Branco, que era ligada à música erudita, eu já tinha uns 17 anos. Aquelas menininhas tocavam muito mais do que eu aquelas músicas de Chopin. Quando comecei a escutar Chopin a sério, pensei, meu Deus, o que é isso? Como é que um sujeito que nasceu há mil anos já sabia de tudo que eu quero saber agora? Já sabia do ritmo, da harmonia, esse polonês-francês Frédéric Chopin, como o outro, Claude Debussy. Fui ficando extasiado com aquela beleza: Ravel, Beethoven, Bach. Comecei a tocar Bach com a professora Lúcia Branco, que tinha estudado em Paris. Fui estudar com Tomás Teran, um espanhol muito amigo do Villa-Lobos, a quem o Villa-Lobos dedicou um álbum daquelas músicas dele. Teran era um cara muito escolástico, muito clássico, mas ao mesmo tempo amigo do Villa-Lobos. O Villa-Lobos dizia: "O Brasil é uma floresta encantada onde a Europa jogou o tapete persa velho, mofado, cheio de poeira, cheio de ácaro". Eu estudava a harmonia no piano. Composição eu fui fazendo porque o Paulo Silva exigia, mas era um troço quadrado para burro. Subdominante, dominante, tônica. Quando eu saía disso, ele brigava comigo. Tom Jobim

1 comentário:

éme. disse...

Isso mesmo: Professores! :)
Passo a vida a relembrar como foram imprescindíveis o Zé Vieira (meu Professor de Filosofia dos 10 e 11º anos de escolaridade, que teve "a lata" de, um dia, me ter escrito num caderninho de recordações: de alguns direi - os meus alunos, de alguns outros afirmarei - os meus amigos!), o Professor Raul Martins (de Português, nos mesmos anos), a Professora Clara Maria Almeida (de Matemática do 9º ao 11º), o Professor Marcelino Paiva (Também de Matemática, mas no 12º)...
Hoje escrevi no Atrever(-me) o nome de um outro Professor, desses que são Professores que depois temos também o privilégio de ter como Amigos... Este já do tempo da Faculdade, Jacques Houart!! Tenho saudades de todos!
Especialmente destes, dos Amigos!
Dos que ensinam e aprendem e são e estão e vão connosco e correm à frente e dão-nos lugar e apoiam e crescem connosco... Que exigem que nos transcendamos! Que exigem, porque sabem que podemos ser melhores, podemos sempre ser maiores...
Os Professores são estruturantes! Os Professores São Vida!
Os Professores São!