sábado, dezembro 20, 2008

Financeiros e Fraudadores Primeiro foi Nick Leeson, corretor de Singapura e uma estrela em ascensão no bicentenário britânico Banco Barings, que levou à falência ao manipular contas em contratos de futuros, conduzindo a prejuízos de mais de mil milhões de euros a preços de 1995. Passou 3 anos numa prisão de Singapura, durante os quais escreveu o livro Rogue Trador detalhando a sua actividade especulativa, livro esse que deu origem ao filme do mesmo nome, de 1999. Parece que, actualmente, é um conceituado palestrante a 15 mil euros a dose. Em Janeiro deste ano, os chefões do gigante francês Société Générale descobriram, aparentemente estupefactos, que um desconhecido empregado chamado Jérôme Kerviel tinha feito transacções ilícitas, também no mercado de futuros, que provocaram prejuízos de mais de cinco mil milhões de euros. Aguarda, em liberdade, o julgamento em que poderá ser condenado a um máximo de 3 anos de prisão. Atendendo à sua idade, ao brilhantismo da sua actuação (dizem que foi mesmo brilhante) e ao facto de nada ter beneficiado com as transacções, augura-se-lhe um futuro brilhante na alta finança, que mais não seja como consultor e conferencista. Há um mês, um antigo político cá do burgo viu-se em prisão preventiva, alegadamente por ter pretendido amealhar uns patacos para dar à mulher de quem tencionava divorciar-se, facto que se diz ter concretizado. Ninguém deu por nada, nem sequer pelo banco em Cabo Verde ou pelo balcão instalado no portátil e os prejuízos foram transferidos para a Caixa Geral de Depósitos. Pelo andar da nossa justiça e da nossa política, é provável que venha a ser absolvido “suma cum fraude” e agraciado com uma qualquer sinecura de fundo de prateleira. Se não a conseguir cá, sempre pode ir de portátil ao Brasil, que as comendas lá são ao preço dos tremoços. Entretanto, muito embora com outro pretexto mas, certamente, para “tapar o buracão”, o capital da CGD vai ser aumentado em mil milhões de euros. No passado dia 12, foi a vez da ordem de prisão calhar a um antigo nadador-salvador que juntou uns 5.000 dólares para criar uma Sociedade de Investimentos em Wall Street, agora em liquidação, e que teve a lábia de enganar tudo e todos, desde grandes bancos espanhóis, suíços, franceses, holandeses e de muitos outros países, até aos responsáveis da SEC, dando sumiço a cerca de quarenta mil milhões de euros, um quarto do PIB português. Não teve de se esforçar muito para levar a tal ponto o Esquema Ponzi, inventado nos Estados Unidos nos anos vinte por um emigrante italiano quase analfabeto e utilizado nos mais variados países e situações, entre as quais a da nossa bem conhecida, e também analfabeta, D. Branca. O que espanta no caso Bernard Madoff é o gabarito dos patos, a dimensão e duração da fraude e o sono de 10 anos da SEC. A procissão ainda vai no adro, o homem está em prisão domiciliária com pulseira electrónica e falta apurar toda a extensão dos danos, mas a justiça estado-unidense costuma ter mão pesada. A ver vamos quem escreve o livro e dirige o filme. Apesar de umas “caldeiradas” de milhões de há largos anos e de umas alegadas “rendas” milionárias da actualidade, quem disse que a arte do desenrasca é tipicamente portuguesa?

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