How many times must a man look up, Before he can see the sky? How many ears must one man have, Before he can hear people cry? The answer, my friend, is blowin' in the wind. The answer is blowin' in the wind.
terça-feira, dezembro 16, 2008
Dunduca, valente e esperto
Seu Dunduca, apesar do apelido infantil, não é nenhum moleque. Homem forte, decidido, resolveu ir arriscar a vida na região de Brasília, quando a cidade ainda estava sendo construída. Foi com a família toda, mas não para Brasília mesmo. Parou num lugar ali perto, sabendo que as terras iam se valorizar muito, e começou a criar gado ao mesmo tempo em que comprava fazendas dos antigos moradores, para dividir e vender como sítios e chácaras aos que chegavam. Comprava por alqueire e vendia, às vezes, por metro quadrado.
Logo que chegou à região, tinha um valentão que não gostava de quem vinha de fora. Viu Dunduca num bar e já entrou provocando. Pegou uma garrafa de cachaça e começou a beber no gargalo, enquanto duvidava da macheza do recém-chegado. Deu-se um duelo no velho estilo dos filmes de bangue-bangue e, antes que o tal valentão engatilhasse o revólver, Dunduca quebrou a garrafa em que ele bebia, com um tiro certeiro. Ou melhor, casual, não foi certeiro, não. Dizem os irmãos do próprio Dunduca que ele era péssimo de pontaria. Talvez tenha tentado acertar o sujeito, errou e pegou a garrafa. Mas ficou com a fama.
Outra fama juntou-se à de bom atirador: a de esperto. Jamais era enganado nos negócios. E enganava muita gente, mas sempre sem mentir:
- Eu só falo a verdade. Se os outros não sabem entender, não é culpa minha.
Um dia, acharam que Dunduca entrou pelo cano, afinal. Tinha comprado um sítio horrível que jamais conseguiria passar pra frente. Nem capim nascia naquela terra ruim. Ele mesmo já achava que dessa vez tinham-lhe passado a perna, embora alegasse que na verdade ele não comprara o sítio, apenas trocara por umas armas e um monte de bodes.
- A maior parte das armas estava com defeito, e bode só dá prejuízo.
Eis que um dia apareceu a salvação: um morador de Brasília queria um sítio para passar fins de semana. Tinha de ter um riacho, pra pescar com os amigos. Dunduca mostrou-lhe seu sítio com um riacho correndo no fundo sem nem uma árvore na margem. Mas o comprador não entendia de terra nem de rio. Apenas perguntava se tinha peixe naquele “rio”. E Dunduca respondeu:
- Ô! Já comi muito peixe na beira desse rio.
Feito o negócio, passada a escritura, Dunduca, já com o dinheiro depositado no banco, falou pro comprador:
- Já comi umas duzentas latas de sardinha na beira daquele rio!
Mouzar Benedito
Publicado no jornal digital VIAPOLÍTICA
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