Elegia do
esquecimento
Não te
conhecerá a víbora ou as oliveiras
nem os cães
e os escorpiões da tua carne
nem as
renovadas crias ou a sílaba fresca.
Não te
conhecerá a fêmea nem o dilúculo
porque como
cometa fulminante já és pó.
Não te
conhecerá o dorso da argila viva
nem o linho
onde assentou o sangue aceso
nem a
memória mutilada do primeiro fogo.
As trovoadas
em breve cantarão as chuvas
o pó subirá
às árvores abrigar-se-á nos olhos
a noite onde
te habituarás a ter a única noite.
O espaço em
que se finge ter tido um destino
as
constelações palpáveis dos dias dos animais.
Não te
recordará ninguém nas pérfidas vozes
como todos
os mortos que se olvidam perdoados
entre as
têmporas orgulhosas de abutres apagados.
(poeta
coimbrão que hoje faz 47 anos)
1 comentário:
Doloroso e terrível desencanto. Apesar de tudo belo.
Abraço
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