O barco era
belo
O barco era
belo
rasgaram-lhe
as velas,
intrusos
cuspiram
no seu
tombadilho
e o homem
sem barco
seguiu pela
estrada
com ondas
redondas
rolando nos
pés.
Gastou os
sapatos
de tanto
horizonte,
quis beijar
a vida
ninguém o
deixou,
quis comer,
quis beber,
disseram que
não,
sentiu-se
doente
mas não
tinha cama.
Soprou
temporais
no sangue,
nas veias,
e todo o seu
corpo
foi fúria e
foi quilha,
cercaram-no
logo
com altos
rochedos
e o homem
sem barco
teve que
evitá-los.
Na estrada
sem nada
dos tristes
humanos
com
pernas-farrapos
o homem lá
vai,
sem eira nem
beira
de bolsos
vazios
com os olhos
ocos
marejados de
mar.
(poeta
lisboeta nascido faz hoje 92 anos)
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