Evolução
Arde o corpo
do sol, brotam feixes de luz: 
O que é a
luz? 
Sol que
morreu. 
Dardeja a
luz, dardeja e pulveriza a fraga: 
Vai nesse
pó, que há-de ser terra, 
A luz
extinta. 
Gerou a
terra a seara verde: 
Hastes e
folhas da seara verde 
Comeram
terra. 
A seara é
grada, o trigo é loiro: 
Deu trigo
loiro, 
Morrendo
ela. 
O trigo é
pão, é carne e é sangue: 
Sangue
vermelho, carne vermelha, 
Trigo
defunto. 
Em carne e
em sangue, eis o desejo: 
Vive o
desejo, 
De carne
morta. 
Arde o desejo,
eis o pecado: 
Que são
pecados? 
Desejos
mortos. 
Queima o
pecado o pecador: 
Nasceu a
dor; findou na dor 
Pecado e
morte. 
A alma
branca, iluminada, 
Transfigurada
pela dor, 
Essa não vai
à sepultura 
Porque é já
Deus na criatura, 
Porque é o
Espírito, é o Amor. 
Na vida vã
da terra sepulcral 
Só o amor é
infinito e só ele é imortal. 
Morreu a
luz, pulverizando a fraga, 
Morreu a
poeira, alimentando a seara; 
Morreu a
seara, que gerou o trigo; 
Morreu o
trigo, que deu vida à carne; 
Morreu a
carne, que nutriu desejo; 
Morreu
desejo, que se fez pecado; 
Morreu
pecado, que floriu em dor; 
Morreu a
dor, para nascer o Amor! 
E só o Amor
na vida sepulcral 
É infinito e
é imortal! 
(Guerra
Junqueiro faleceu faz hoje 89 anos)
1 comentário:
Um "grande" poeta incómodo.
Abraço
Enviar um comentário