quarta-feira, setembro 01, 2010

O discurso

Havia a necessidade absurda de falar
para manter o equilíbrio da mesa
e preservar a reputação implícita
nos gestos.

Alguém chegou a reclamar a urgência
de um gravador para medir as vaias.
Outro, mais complacente, se preparava
para pedir bis. Um terceiro mastigou
ruidosamente a ponta da língua.

Neste momento solene... o poeta
burlou a vigilância das moscas
e deu um salto mortal no meio
do discurso.

E ante a curiosidade geral dos convivas,
fabricou um cavalo de miolo de pão
e fugiu a galope, levando à garupa
a garota que estava fingindo que não.

Gilberto Mendonça Teles

(poeta carioca)

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