Os Pequenos Varredores
Pela escura avenida arborizada, 
ninguém. Lá para cima, 
escuta-se um rumor que se aproxima, 
nuvens rolando pelo chão, mais nada... 
Depois, enche-se a noite de pavores, 
há risos, pragas, uivos; 
dançam, ao longe, contra o vento, ruivos 
de poeira, pequeninos varredores. 
De ombros estreitos e de faces cavas, 
lutam com seus destinos, 
nas horas em que todos os meninos 
dormem e sonham com princesas flavas. 
Há, entre eles, alguns que são precoces, 
fumam e bebem. Vários, 
transitam para a noite dos ossários, 
têm o pulmão comido pelas tosses. 
Arrastando o esqualor destas sarjetas, 
dirão, olhos em brasa, 
que é melhor acabar na Santa Casa 
do que viver assim, como grilhetas. 
E lá se vão. A nuvem se adelgaça; 
um senhor, na alameda 
sem luz, toma do lenço, que é de seda, 
tapa o nariz, inclina a fronte, e passa... 
Afonso Schmidt*, in Janelas Abertas 
* poeta paulista
 
 
1 comentário:
Os Pequenos Varredores esmiuçam-se em cada esquina do fio dos dias...
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