sexta-feira, janeiro 11, 2008

A importância do Latim Um recente editorial aberto do jornal The New York Times, intitulado A Vote for Latin, e uma ainda mais recente análise a um manual inglês de Latim, publicada na Slate Magazine com o título de The Renaissance of Latin, trouxe-me à memória um episódio velho de 24 anos relativo ao estado da nossa iliteracia. Corria o ano de 1983 (sei-o porque a minha filha tinha um ano de idade) e fui convidado para a casa de uma casal amigo, onde almocei, jantei e pernoitei. Ao serão, o anfitrião, doutorado em línguas clássicas e professor da Faculdade de Letras, foi corrigir provas de português de alunos seus do 5º ano, os quais, no ano lectivo seguinte, seriam lançados no mercado de trabalho como professores de português do ensino secundário. Obtido o seu consentimento para olhar para algumas provas (não houve quebra de sigilo porque não estavam assinadas com os nomes verdadeiros), verifiquei, com estupefacção, que havia erros ortográficos a rodos, pontuações inadequadas e construções sintácticas sem pés nem cabeça. Quando lhe disse que, se fosse eu o professor, nenhum daqueles seis ou sete alunos cujas provas analisara obteria aprovação, respondeu-me que tinha a mesma opinião, mas não podia apresentar uma taxa de reprovações superior a dez por cento. Falámos sobre a falta de formação daqueles alunos nas línguas-mãe do português (Latim e Grego) e a pouca sorte dos que viriam a ser os alunos de tais professores e concluímos que o mal radicava numa realidade que mais tarde viria a ser popularizada por um dirigente do nosso futebol: o sistema. Que, pelos vistos, não melhorou nada. Ao procurar informações sobre o ensino do Latim em Portugal, deparei-me com este texto, de uma aluna do ensino secundário que teve contacto com aquela língua por mero acaso: o seu testemunho é revelador! As nossas crianças e adolescentes saem do ensino básico e secundário sem saberem ler nem escrever e os nossos especialistas o que é que fazem? Ensinam-lhes o inglês desde tenra idade. Eu não sou contra o ensino do inglês no primeiro ciclo do ensino básico e até lamento não ter tido oportunidade de o aprender convenientemente quando era menino e moço. Sou, sim, contra o deficiente ensino do português às nossas crianças e jovens, por sua vez resultante do mau ensino do português nas universidades. Mas, se não prestamos qualquer atenção ao Latim, donde provem mais de noventa por cento do nosso léxico, seja por via erudita seja por via popular, ou ao Grego, que deu origem à quase totalidade da linguagem científica, como queremos que as nossas crianças e jovens saibam ler e escrever português? Não será, certamente, injectando-lhes doses maciças de telenovelas brasileiras, submetendo-as a uma terminologia caricata que só serve para alguns pseudo-especialistas contemplarem o próprio umbigo ou indo a reboque de um acordo ortográfico ridículo. Como diz muito bem a Cláudia, os Lusíadas nunca teriam sido escritos se Camões não dominasse os clássicos. E eu acrescento que nem sequer podem ser entendidos por quem não tenha formação clássica. Os Lusíadas e a maior parte da nossa literatura. Numa visita de trabalho a Kansas City, Missouri, em 1991, um colega actuário estado-unidense dizia-me que nós, os europeus, éramos uns privilegiados, porque se andássemos cinco mil quilómetros contactávamos com meia dúzia de culturas, línguas e culinárias diferentes, enquanto eles, percorrendo seis mil quilómetros de costa a costa, comiam a mesma junk food e ouviam o mesmo inglês mal falado. Sorri e fechei-me em copas, mas espero que se ele vier a realizar o grande sonha da sua vida – fazer uma viagem pela Europa na companhia da mulher – e passar por Portugal, não se aperceba da desgraça profunda que grassa por aqui, pelos menos em termos culturais e linguísticos (com recuperação aprazada para as calendas gregas) , pois de culinária ainda vamos entendendo, apesar de a saloiice da alta cozinha francesa, a moda das iguarias orientais e a deseducação da comida rápida já irem abastardando muitos dos nossos tesouros da arte de bem comer. Que é diferente de comer bem, mas isso parece que não interessa para nada.

2 comentários:

Anónimo disse...

meu amigo ! a teu pedido já mudei a cor dos comentarios :) espero que agora seja mais facil para ti leres e veres as letras ,coloquei agora a verde e parece k se vê bem :) depois logo me dizes algo .
um optimo final de semana
bjo
carla granja

lino disse...

Obrigado, amiga. Para mim está agora muito melhor.
beijos,