segunda-feira, janeiro 07, 2008

Biografia Sintática Eu, substantivo, na ação verbal Como objeto jamais quis permanecer. Nutri em vida o ledo sonho De como sujeito me enternecer. Fui infeliz na sintaxe da vida, Pois primeiro me coube a função Completiva de outro nome Por imposição de um Ser. Tornei-me passivo e subordinado, Com deveras esforço, galguei novo cargo. Como adjunto caracterizei um cognato Desses mais aclamados. Tempos passados me coordenaram E por meros instantes me orgulhei, Mas quis o sádico destino alomorfizado Que eu fosse somente um derivado. No processo verbal, deixaram-me, Sem me consultar, no predicado. Tolo eu fui, pois não me permitiram nuclear... Completei, assim, um indiferente verbo irregular. Sofri a farfalhada zombaria De ingratas preposições.... Delas nada mais se pode esperar, E a pena caridosa das interjeições Suspirando seus ai, ais! Ao meu lugar me pus E aceitei a passividade do termo, Quando me promoveram à categoria De objeto direto, mas por não confiarem, Fui impiedosamente pleonastiquizado. A pena, cumpri sem questionar, Pois esperanças mantive de me verbalizar; E na diferente construção, Enfim me realizar. Não tive a sorte E no período vaguei Sem fixa posição, Totalmente sem lugar. Quando por fim a notícia tive, Estava a me deslocar. Convidaram-me para sujeito E nem pude acreditar. De gala me vesti Todo, inteiro e aprumado Com o sorriso exposto compareci Para ser apenas indeterminado. Magoado com os termos Faltando a concordância Brigado com a regência Desisti da sintaxe... E fui ser anacoluto na vida. Alberto da Cruz* *poeta brasileiro contemporâneo

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