sexta-feira, abril 11, 2014

AÍ ESTÁ O SALDO FINAL

Confiei em mim desde o primeiro momento.
Custa muito pouco ser dono do vento.

E à besta não lhe é mais custosa
a vida, até que a lançam à fossa.

Nasci, amei, fui longe, fiz o resto.
Com medo, às vezes, mantive-me no posto.

Paguei sempre as dívidas contraídas
e agradeci, com as mãos estendidas.

Se fingida mulher aqui e além me quis,
amei-a, para que pudesse ser feliz.

Fiz cordas, varri, dei-me ao vinho
e entre os espertos fingi-me cretino.

Vendi brinquedos, pão e poesia,
jornais e livros: o que se vendia.

Não morrerei enforcado em fácil trama
ou em grande batalha, mas na cama.

Vivi (já está aí o saldo final):
Muitos outros morreram deste mal.


(poeta húngaro nascido faz hoje 109 anos)

Tradução de Egito Gonçalves

3 comentários:

jrd disse...

Morreu em paz porque em paz viveu.

Abraço

São disse...

Estupendo poema de alguém que não conhecia, ao contrário do tradutor...

Beijinhos

O Puma disse...

Em Abril

rebentam os cravos