quinta-feira, julho 18, 2013

Os Bêbados

 Os bêbados passam cantando nas ruas
desertas da aldeia;
recebem contentes, ao sábado, as jornas
e vão derretê-las à boca das dornas,
de noite, nas tascas, à luz da candeia.

Em chusmas, unidos, é vê-los no escuro
- Que até fazem dó! –
espectros da fome, sair das tabernas,
borrachos, cantando, cambadas as pernas,
Os olhos mortiços e as bocas em ó ...

Um canta em voz alta; respondem-lhe os outros,
E cresce, enche o ar
um coro arrastado, soturno, indolente,
e a alma do povo, parece que a gente
a sente cá dentro do peito a chorar!

Trabalham, moirejam de dia, e à noite,
coitados, lá vão,
fugindo à gleba, libertos do ancinho,
embora haja fome, beber, porque o vinho
alegra e é por isso melhor do que o pão.

Nas praças desertas abraçam-se em grupos,
meu Deus, que tristeza!
E os braços lhes pesam mais leves nos ombros,
que o lenho das dores, por esses escombros
dos rudes calvários, nos ombros lhes pesa.

Os bêbados choram nas noites caladas,
cantando em segundas,
as queixas doridas, os ais e os lamentos
que às vezes se escutam na leva dos ventos,
na voz, no marulho das águas profundas.

O génio das coisas soluça naquelas
tristezas ocultas,
e os tristes borrachos, cantando nas praças,
sugerem tragédias, acordam desgraças
que, ó génio das coisas, na treva sepultas!

Um canta em voz alta, respondem-lhe os outros,
e cresce, enche o ar
um coro arrastado, soturno, indolente,
e a alma do povo, parece que a gente
a sente cá dentro do peito a chorar!


(poeta monsarense nascido faz hoje 161 anos)

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